A Sabesp, empresa de saneamento de São Paulo, alcançou um marco inédito ao se tornar a primeira companhia a receber a designação de ‘ação verde’ na B3. Esse novo selo é concedido pela bolsa brasileira a empresas que demonstram um claro compromisso com a economia de baixo carbono. Para obter tal designação, é necessário que mais de 50% da receita bruta anual, bem como dos investimentos e despesas operacionais, sejam originários de negócios classificados como verdes. Além disso, é um requisito que menos de 5% do faturamento bruto venha de combustíveis fósseis.
A designação é feita de forma voluntária e a análise é conduzida anualmente por uma consultoria independente credenciada pela B3. No caso da Sabesp, essa verificação foi realizada pela S&P Global Ratings, que aplicou critérios similares aos usados por bolsas como a London Stock Exchange e a Nasdaq Nordic, que já possuem selos semelhantes.
Segundo Cesar Sanches, superintendente de sustentabilidade da B3, a intenção é que o selo para ações verdes cumpra um papel análogo ao dos instrumentos de dívidas sustentáveis, como os green bonds e sustainability bonds. No entanto, ao invés de focar em projetos específicos, a análise se debruça sobre o modelo de negócios da empresa como um todo.
Vale destacar que a obtenção do selo coincidiu com um momento significativo para a Sabesp: a iminente venda de ações do governo paulista, que marcará o fim do controle estatal sobre a companhia. Virgínia Ribeiro, superintendente de sustentabilidade e governança corporativa da Sabesp, afirmou que a privatização não teve influência direta na obtenção do selo. Segundo Ribeiro, o selo “demonstra confiabilidade e transparência” e pode agregar valor à companhia independentemente de sua estrutura jurídica futura.
Contribuindo para a obtenção do selo, a Sabesp destacou a criação de uma área de sustentabilidade com reporte direto ao CEO André Salcedo, bem como a publicação de um novo relatório de sustentabilidade alinhado com os padrões da Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD).
A avaliação da S&P Global Ratings revelou que a Sabesp cumpre amplamente os requisitos para a designação: 100% das receitas e dos investimentos de capital da empresa são destinados a ações que promovem a economia verde, e 96% das despesas operacionais se enquadram na mesma classificação. Isso coloca a Sabesp em uma posição única no mercado brasileiro de ações verdes.
O objetivo do selo, conforme explica Sanches, é proporcionar maior visibilidade para empresas que realmente estejam praticando sustentabilidade, e não apenas aleguem fazê-lo – uma ação contra o greenwashing. Isso é particularmente relevante em um cenário onde investidores estão cada vez mais atentos a critérios ESG (sigla para ambiental, social e governança) em suas teses de investimento. A expectativa é de que a designação aumente a base de investidores interessados nessas empresas.
Vale lembrar que a iniciativa da B3 não é isolada e segue métodos reconhecidos globalmente. A World Federation of Exchanges, que reúne as principais bolsas de valores do mundo, divulgou diretrizes para a designação de ações verdes que servem como base para a B3. A Bolsa de Londres foi a primeira a criar um selo do tipo em 2019, e hoje, mais de 110 empresas e fundos possuem o ‘green economy mark’, com um valor de mercado combinado de aproximadamente US$ 220 bilhões.
Ribeiro, da Sabesp, destacou que, assim como os investidores já podem identificar as dívidas verdes em seu portfólio, agora terão a possibilidade de fazer o mesmo com ações verdes. Ela considerou que a nova designação da B3 será um entre muitos instrumentos que avaliam compromissos climáticos das corporações.
Ainda que seja cedo para avaliar os efeitos do selo de ação verde da B3 no mercado brasileiro, a iniciativa já marcou um importante passo na direção de um sistema financeiro mais alinhado com os princípios de sustentabilidade e transparência. A Sabesp, ao se tornar a primeira empresa a obter o selo, fortalece sua imagem de companha comprometida com um futuro sustentável, potencialmente atraindo um novo leque de investidores que priorizam responsabilidades ambientais.
Fonte: https://capitalreset.uol.com.br/empresas/companhias-abertas/sabesp-e-a-primeira-acao-verde-da-b3/