A bioeconomia global está avaliada em aproximadamente $4 trilhões, com mais de 50 nações já tendo divulgado estratégias específicas ou políticas orientadas para uma bioeconomia sustentável. Com o crescente desenvolvimento de novas tecnologias em engenharia e biologia sintética, espera-se que o setor acelere sua comercialização, potencialize a fabricação distribuída e promova a resiliência na produção, diversificando além da tradicional fabricação química.
No entanto, a falta atual de normas e métricas técnicas que se apliquem a esta ampla indústria global pode resultar em um caos operacional. A ausência de interoperabilidade e a incapacidade de compartilhar dados ou permitir a transferência de tecnologia internacionalmente são preocupações centrais. A Organização Internacional para Padronização (ISO) publicou apenas 35 normas diretamente relacionadas à biotecnologia, enquanto existem 79 normas específicas para instrumentos dentais, por exemplo.
Diante desse cenário, existe uma demanda crescente de representantes da indústria e acadêmicos para desenvolver padrões técnicos e métricas que possam ser aplicados em toda a cadeia de inovação, apoiando assim o crescimento da bioeconomia. Um novo relatório, intitulado Engineering Biology Metrics and Technical Standards for the Global Bioeconomy, resume os achados de um esforço internacional que reuniu partes interessadas de todo o mundo para discutir as necessidades e prioridades de padronização em diferentes regiões.
Coordenado pelo Imperial College London, o Engineering Biology Research Consortium (EBRC), o National Institute of Standards and Technology (NIST), e a National University of Singapore (NUS), com apoio da Schmidt Sciences, o relatório aborda a necessidade de padrões e métricas para o setor e a atual falta de clareza sobre quais normas priorizar. Dez áreas principais foram identificadas, abrangendo desde normas de formato de dados e compartilhamento de dados, até métricas aplicadas ao processo de escala e ao estabelecimento de um léxico padronizado.
Sem esses padrões e métricas, haverá oportunidades de inovação perdidas e desafios crescentes ao longo da cadeia de inovação. O setor corre o risco de ser monopolizado por um pequeno número de grandes players industriais, já que as barreiras – incluindo custos e obstáculos regulamentares – para levar novos produtos biotecnológicos ao mercado são altas para pequenas e médias empresas (PMEs). A introdução de padrões e métricas que apoiem as PMEs a se expandirem permitirá uma inovação contínua e impulsionará a bioeconomia.
A bioeconomia global tem potencial para desenvolver soluções para alguns dos maiores desafios mundiais, desde as mudanças climáticas até a segurança alimentar. Produtos e processos bioengenheirados podem contribuir para um futuro mais sustentável; contudo, esse potencial não é sempre claramente comunicado. Aplicar padrões pode ser uma forma eficaz de permitir que os consumidores comparem produtos bioengenheirados com produtos não bioengenheirados.
Para crescer globalmente e contribuir de maneira significativa para os desafios globais, são necessárias normas e métricas que promovam um entendimento compartilhado e possibilitem a transferência de conhecimento, o compartilhamento de dados e apoiem a fabricação e o comércio distribuídos ao redor do mundo. As avaliações de sustentabilidade são frequentemente usadas como uma forma de comparar produtos, fornecendo evidências dos critérios de sustentabilidade atendidos. Um exemplo é a Avaliação do Ciclo de Vida (LCA), já amplamente utilizada. No entanto, a interpretação e aplicação dessas avaliações podem variar significativamente, sem considerações específicas do setor que poderiam aprimorar as normas e frameworks existentes da LCA.
O relatório publicado chama a atenção para a padronização da LCA para produtos de biologia engenheirada, incluindo a origem e renovabilidade das matérias-primas, os impactos do transporte de matérias-primas, os impactos sobre a biodiversidade e a intensidade de carbono (por exemplo, para instalações de biocontenção). Para acelerar o desenvolvimento de novos produtos a partir de matérias-primas de biomassa, os stakeholders solicitaram mais informações sobre a composição das matérias-primas, observando que os fabricantes sempre favorecerão materiais de partida bem caracterizados.
Em resposta a essas demandas, o relatório também identifica várias ferramentas para apoiar os padrões, como o desenvolvimento de fichas de especificação de matérias-primas, permitindo que pesquisadores e indústrias selecionem matérias-primas adequadas com base em um conjunto de características predefinidas.
Os stakeholders das Américas, Europa, Ásia e Austrália se reuniram para discutir as prioridades regionais de padronização em biologia engenheirada. As discussões destacaram a necessidade de abordar até os conceitos mais básicos, como a definição do termo ‘bioeconomia’, ou o uso às vezes intercambiável dos termos ‘biologia de engenharia’ e ‘biologia sintética’.
O relatório identifica 10 áreas principais que representam pontos-chave de dor em todo o setor, que poderiam ser superados ou, no mínimo, minimizados aplicando normas e métricas adequadas. Os contextos e perspectivas regionais diferentes refletem as variadas necessidades e prioridades na bioeconomia global. No entanto, essas diferenças apresentam oportunidades de desenvolvimento de normas específicas para regiões, aproveitando as forças regionais e garantindo que as normas sejam implementadas mais cedo, e sejam adequadas ao contexto regional.
Por outro lado, é importante buscar coordenação e harmonização global na definição de normas para a bioeconomia global. Em regiões onde a prontidão tecnológica está mais avançada ou onde já existem práticas mais estabelecidas, há oportunidades para introduzir normas que possam ser adotadas posteriormente em outras regiões. Estabelecer normas e métricas para biologia sintética que possam ser aplicadas para avançar a bioeconomia global exigirá contribuições de stakeholders dos governos, da academia e da indústria, além de coordenação com órgãos de definição de normas. Programas de financiamento serão indispensáveis para apoiar esses esforços, e uma maior colaboração internacional será essencial para garantir a aplicação bem-sucedida da padronização em todo o setor da bioeconomia.