A bioeconomia como uma área emergente e dinâmica, apresenta um horizonte promissor marcado por inovações tecnológicas e desafios de sustentabilidade. Os avanços em biotecnologia impulsionam mudanças significativas em diversos setores – da alimentação à farmacêutica, do manejo de resíduos à produção industrial. Este panorama abrange uma variedade de áreas, todavia, ainda carece de uma definição consolidada e enfrenta barreiras para seu pleno desenvolvimento. Destacam-se aqui as perspectivas atuais e potenciais obstáculos e questionamentos éticos inerentes a essa transição bioeconômica.
O crescimento populacional e a escassez de recursos naturais, além da preocupação com as consequências ambientais de práticas produtivas insustentáveis, são fortes impulsores da bioeconomia. Esta nova direção da ciência aponta para um uso mais eficiente e renovável dos recursos naturais, visando a criação de uma economia equilibrada e menos prejudicial ao meio ambiente. Essa transição, contudo, envolve complexidades que vão além da pura aplicação científica, tangendo questões éticas e necessitando de uma regulamentação cuidadosa, especialmente no que diz respeito à manipulação de organismos vivos.
Dentro dessa nova economia, a biotecnologia assume um papel central, se mostrando multidisciplinar e intrinsecamente ligada a outras áreas do saber, como economia, física, química, matemática e tecnologia da informação. O desenvolvimento de biotecnologias robustas demanda um conhecimento fundamental, habilidades práticas e tecnologias inovadoras provenientes destas várias disciplinas. Os avanços nesta área têm o potencial não só de melhorar a qualidade e a expectativa de vida humana, como também de catalisar o crescimento econômico de nações que apoiarem e capitalizarem ativamente sobre esse novo conhecimento.
Entretanto, o cenário na Rússia evidencia déficits significativos na implementação e desenvolvimento de tecnologias inovadoras, sobretudo em biotecnologia. A divisão entre ciência acadêmica e aplicada, o escasso entendimento de gestão de projetos e a falta de estrutura para identificação e financiamento de projetos inovadores representam desafios que precisam ser superados. Programas interdisciplinares e a disseminação de competências universais em sistemas de educação superior emergem como soluções em potencial para estes entraves.
A biodiversidade da Terra serve como uma fonte substancial de inspiração e material para a biotecnologia moderna. A técnica conhecida como biónica exemplifica isso ao buscar replicar processos e estruturas biológicas em novas tecnologias, materiais ou designs. Esta abordagem pode ser vista em setores tão diversos quanto a aviação e a metalurgia, reforçando a noção de que a bioeconomia vai muito além de uma simples fusão de economia e biologia, representando uma verdadeira simbiose entre diferentes campos científicos.
As inovações biotecnológicas estendem-se a uma variedade de setores econômicos, ilustradas pela classificação em cores que refletem seu amplo impacto: “branca” para a indústria, “vermelha” para medicina e farmacêutica, “verde” para agricultura, “cinza” para proteção ambiental e “azul” para aquicultura.
No entanto, existem desafios significativos no caminho para a concretização da bioeconomia. A falta de consenso sobre o termo, problemas de financiamento e baixa conscientização pública são questões importantes. Além disso, a dimensão moral do uso de biotecnologias, incluindo engenharia genética e clonagem, não pode ser desconsiderada. A regulamentação estatal se faz necessária para que a bioeconomia alcance seu potencial sem criar novos problemas. Portanto, é vital que as políticas e os controles sejam equilibrados com incentivos para a inovação e o desenvolvimento sustentável.
É evidente que a bioeconomia possui um enorme potencial para transformar positivamente a vida em sociedade e a economia global. Contemplando casos de sucesso como o da St1 Biofuels na produção de combustível automotivo a partir de bio-resíduos, torna-se clara a relevância cada vez maior dessa nova economia. Estamos diante de uma oportunidade de moldar a bioeconomia de maneira a promover não só avanços econômicos e tecnológicos, mas também a sustentabilidade e o bem-estar social.
Fonte: A. Khagaeva, L. Karaketova, and S. Chernova, “Industrial production in the bioeconomy: directions and prospects,” BIO Web of Conferences, vol. 76, art. no. 08004, 2023, doi: 10.1051/bioconf/20237608004.