Florestas no Antropoceno: Navegando entre discursos e dinâmicas de poder

As florestas têm sido objeto de discursos em evolução, moldados por meta-discursos mais amplos e estruturas regulatórias. Uma recente revisão fornece insights sobre o estado atual dos discursos relacionados às florestas e suas implicações para a governança e formulação de políticas. A revisão destaca o surgimento da mudança climática como o meta-discurso dominante, ofuscando outras preocupações relacionadas às florestas. A necessidade urgente de mitigar as mudanças climáticas colocou as florestas no centro dos esforços globais, enfatizando seu papel como sumidouros de carbono e provedores de serviços de regulação climática.

Essa ‘climatização’ dos discursos florestais tem implicações significativas para a forma como as florestas são gerenciadas e valorizadas. Isso levou a um enquadramento das florestas como sumidouros de carbono negociáveis, provedores de serviços ecossistêmicos e fontes de Soluções Baseadas na Natureza, frequentemente priorizando a mitigação climática em relação a outras funções florestais.

A abordagem baseada no mercado para o gerenciamento de florestas e o enfrentamento das mudanças climáticas ganhou destaque, particularmente dentro do discurso da modernização ecológica. Esse discurso, com suas conotações neoliberais, enquadra a mudança climática como uma oportunidade de negócios, promovendo a mercantilização da natureza e o estabelecimento de mercados para serviços ecossistêmicos. A dependência de mecanismos de mercado é vista como uma estratégia econômica para enfrentar as mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, promover meios de subsistência locais por meio de oportunidades de negócios. No entanto, os críticos argumentam que essa abordagem pode não produzir os resultados desejados em tempo hábil e pode exacerbar as desigualdades sociais e econômicas.

O discurso da bioeconomia, que visa superar os limites do crescimento por meio da inovação biotecnológica, também depende fortemente dos mecanismos de mercado. Ele busca alcançar uma economia sustentável que contribua para limitar as mudanças climáticas, mas permanecem questões sobre sua capacidade de gerar resultados social e economicamente justos.

Contrapondo-se às abordagens baseadas no mercado, o discurso do ambientalismo cívico e a busca pela justiça ambiental ganharam força. Esses discursos enfatizam os valores não mercantis da natureza e das florestas e exigem maior consideração das necessidades das comunidades vulneráveis. Os críticos argumentam que as abordagens orientadas para o mercado perpetuam histórias de conservação e extrativismo colonial e se baseiam no pressuposto da universalidade da ciência e do conhecimento europeus. Eles pedem o reconhecimento dos sistemas de conhecimento locais e indígenas e a priorização da justiça e da equidade.

A polarização entre os discursos baseados no mercado e os orientados para a justiça representa desafios significativos para os formuladores de políticas. Encontrar um terreno comum e forjar compromissos se torna cada vez mais difícil à medida que os discursos divergem e competem. O complexo cenário discursivo requer a navegação por múltiplos pontos de vista, às vezes opostos, garantindo que as vozes marginalizadas sejam ouvidas e consideradas. Os formuladores de políticas devem buscar equilibrar interesses concorrentes enquanto trabalham para uma governança florestal equitativa e sustentável.

A revisão também destaca a ligação íntima entre conhecimento florestal, poder e mecanismos de exclusão. Discursos e sistemas de conhecimento dominantes podem perpetuar desequilíbrios de poder e marginalizar perspectivas alternativas. O enquadramento das florestas como sumidouros de carbono e a dependência de técnicas de contabilidade e monitoramento de carbono podem excluir sistemas de conhecimento locais e tradicionais. Essa exclusão reforça injustiças e dificulta o reconhecimento de diversos valores e relações com as florestas.

A mercantilização das florestas e seus serviços é outro mecanismo por meio do qual o poder é exercido. A criação de mercados para serviços ecossistêmicos requer a tradução de ecossistemas complexos em entidades comercializáveis, frequentemente priorizando valores econômicos em detrimento dos sociais e culturais. As dinâmicas de poder também são evidentes nos silêncios e omissões dentro dos discursos florestais. A falta de atenção às perspectivas locais e indígenas e a priorização de soluções técnicas em detrimento do enfrentamento dos desequilíbrios de poder subjacentes perpetuam as desigualdades e dificultam a governança eficaz.

A revisão ressalta a necessidade de maior reconhecimento de diversos sistemas de conhecimento e a inclusão de vozes marginalizadas na governança florestal. Abraçar a complexidade e fomentar diálogos inclusivos são vistos como fundamentais para encontrar soluções sustentáveis e equitativas.

No entanto, a produção e disseminação dos próprios discursos relacionados às florestas refletem desequilíbrios de poder, com uma representação dominante de autores e perspectivas do Norte Global. Essa desigualdade destaca a divisão mais ampla do conhecimento e a necessidade de maior inclusão de vozes do Sul Global. Apesar dos desafios, a complexidade dos discursos florestais também pode apresentar oportunidades de experimentação e aprendizado. Regimes complexos frouxamente acoplados, caracterizados por flexibilidade e adaptabilidade, podem ser mais eficazes no tratamento da natureza complexa da governança florestal.

Os formuladores de políticas e gestores florestais devem navegar nesse complexo cenário discursivo, buscando equilibrar interesses concorrentes e trabalhando para resultados equitativos e sustentáveis. Isso requer uma compreensão profunda das dinâmicas de poder subjacentes e um compromisso com processos decisórios inclusivos e transparentes.

Os resultados deste estudo também têm implicações para a pesquisa e a produção de conhecimento. Há uma necessidade de maior interdisciplinaridade e integração de perspectivas das ciências sociais e humanas na pesquisa relacionada às florestas. Isso pode ajudar a descobrir e abordar os desequilíbrios de poder e os mecanismos de exclusão incorporados nos discursos dominantes.

Em conclusão, o cenário em evolução dos discursos florestais reflete a natureza complexa e contestada da governança florestal no Antropoceno. À medida que as mudanças climáticas dominam a conversa, é crucial considerar as implicações das abordagens baseadas no mercado, as demandas por justiça ambiental e as dinâmicas de poder subjacentes que moldam o conhecimento e a tomada de decisões relacionadas às florestas. Navegar nesse complexo cenário discursivo requer um compromisso com processos inclusivos e transparentes, o reconhecimento de diversos sistemas de conhecimento e a disposição de abraçar a complexidade. Ao fomentar o diálogo, a reflexividade e uma representação mais equitativa de vozes, podemos trabalhar para uma governança florestal mais justa e sustentável diante dos desafios globais.

Fonte: [1]INTERNATIONAL FOREST GOVERNANCE: A CRITICAL REVIEW OF TRENDS, DRAWBACKS, AND NEW APPROACHES. Chapter 4 Current Forest-related Discourses.

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