Em meio às discussões sobre as mudanças climáticas e a destruição do meio ambiente, o campo da bioeconomia apresenta soluções inovadoras para restaurar a harmonia entre o desenvolvimento humano e a natureza. Uma dessas soluções, os créditos de biodiversidade, ganham destaque em um novo guia prático que oferece diretrizes para um uso precoce com integridade e alta qualidade. O documento intitulado ‘Biodiversity Credits: A Guide to Support Early Use with High Integrity’, produzido pelo Fórum Econômico Mundial em colaboração com a McKinsey & Company, mostra o caminho promissor que esses créditos representam para a conservação da biodiversidade, a restauração de ecossistemas e a gestão sustentável da natureza.
Conforme estabelecido pelo Marco Global de Biodiversidade Kunming-Montreal em 2022, o objetivo é interromper e reverter a perda de biodiversidade até 2030. Tal feito demanda uma abordagem integrada da sociedade e uma transformação paradigmática nos modelos econômicos e sociais atuais. A brecha de financiamento anual de US$ 700 bilhões para a biodiversidade requer reformas políticas e uma transição para padrões de produção e consumo sustentáveis, respeitando-se o compartilhamento equitativo dos benefícios. Nesse ínterim, o setor privado surge como um protagonista ao desenvolver estratégias voltadas para a natureza, evidenciando uma crescente conscientização em relação à sua sustentabilidade.
O guia destaca o potencial dos créditos de biodiversidade em fornecer resultados positivos para a natureza e sistemas ecológicos, incentivando atividades econômicas a responsabilizarem-se por suas externalidades, mitigando disrupções em negócios e cadeias de suprimentos, e beneficiando comunidades locais e povos tradicionais que, por gerações, relacionaram-se de forma equilibrada com a natureza. Vale ressaltar que, para assegurar a credibilidade do mercado emergente de créditos de biodiversidade, o padrão de integridade precisa ser elevado, com ênfase na transparência e na aprendizagem com os mercados de carbono, consolidando uma base sólida para o crescimento sustentável deste novo mercado.
O relatório identifica casos de uso inter-relacionados para os créditos de biodiversidade, como aprimorar créditos de carbono para melhores resultados em termos de natureza; acessar serviços ecossistêmicos como insumos; contribuir para a recuperação da natureza além do impacto próprio; e oferecer produtos combinados com a recuperação da natureza. Há um debate em curso acerca da possibilidade de utilizar os créditos de biodiversidade para assumir responsabilidade voluntária pelos impactos não mitigados da biodiversidade, aplicáveis em contextos onde esquemas de compensação de conformidade não existem ou cobrem apenas parte do impacto das empresas sobre a natureza.
Entretanto, o uso impróprio de créditos de biodiversidade pode prejudicar tanto a natureza quanto as comunidades locais, além de expor compradores a riscos estratégicos, operacionais e de reputação. Uso inadequado pode se manifestar como ‘greenwashing’, especialmente quando tais créditos são percebidos como substitutos de esforços significativos para evitar e reduzir o impacto na natureza. Créditos de baixa integridade que falham em gerar resultados significativos para a natureza ou dar suporte a comunidades locais e povos indígenas também podem falhar na criação de valor duradouro para as empresas.
As empresas podem tomar medidas para maximizar o valor criado pelos créditos de biodiversidade, assegurando-se de que usem os créditos de maneiras críveis e eficazes, que apoiem seus objetivos, e evitando riscos potenciais associados à sua compra. Essas ações incluem posicionar a compra de créditos de biodiversidade dentro de uma estratégia de natureza alinhada com a hierarquia de mitigação, e ser específico e transparente em quaisquer reivindicações feitas associadas à compra de créditos.
Para impulsionar essa formação de mercado, o guia incentiva empresas a adotarem transparência radical em suas alegações, um ponto de partida sensato inclui a avaliação de como os créditos de biodiversidade podem se encaixar em suas estratégias de natureza mais amplas, testando abordagens emergentes de medição e apoiando o desenvolvimento de uma infraestrutura robusta de mercado. Assim, as empresas que agirem agora podem acelerar a criação de mecanismos de integridade e credibilidade no mercado, mesmo em meio à evolução de padrões e diretrizes.
Em conclusão, o guia sinaliza o percurso perigoso em direção ao colapso ecológico causado pela perda de biodiversidade nas últimas cinco décadas e enfatiza a necessidade urgente de agir para interromper e reverter essa perda. A biodiversidade e os serviços da natureza são fundamentais para mais da metade do PIB mundial, consolidando a importância da transformação para um caminho mais sustentável. Os créditos de biodiversidade, como um dos instrumentos para mobilizar capital adicional, têm um papel crucial a desempenhar. Eles oferecem a possibilidade de preencher a lacuna de financiamento para a natureza e desbloquear oportunidades de crescimento associadas a melhores resultados para a natureza.
Convidamos os profissionais visionários da bioeconomia a considerarem como os créditos de biodiversidade podem fortalecer seus esforços em prol de uma interação mais sustentável com o meio ambiente. Para uma compreensão mais aprofundada e o contexto completo dessas informações, sugerimos a leitura integral do guia ‘Biodiversity Credits: A Guide to Support Early Use with High Integrity’, disponível através do link abaixo, e explorar como esses mecanismos podem ser integrados em suas estratégias de negócios.
Fonte: ‘Biodiversity Credits: A Guide to Support Early Use with High Integrity‘. World Economic Forum in collaboration with McKinsey & Company, DEZEMBRO 2023. Disponível em: https://www3.weforum.org/docs/WEF_Biodiversity_Credits_A_Guide_to_Support_Early_Use_with_High_Integrity_2023.pdf