Uma onda de protestos está crescendo em Suriname após planos governamentais para o desenvolvimento da agricultura na região amazônica tornarem-se públicos. Documentos do governo revelam que uma vasta extensão da floresta primária do país, estimada em centenas de milhares de hectares, está sendo considerada para conversão em áreas agrícolas. A notícia tem despertado severas críticas por parte de comunidades indígenas, grupos de conservação e alguns membros do parlamento, que expressam preocupações acerca do desmatamento da Amazônia e o destino das terras ancestrais.
Indígenas e defensores do ambiente em alerta: De acordo a investigações lançadas por Mongabay no último ano, aproximadamente 354.836 hectares de terra estavam em jogo para uso agrícola, implicando um significativo corte transversal da floresta tropical. A situação potencializa o temor de um avanço sem precedentes no desmatamento num país que, nas duas últimas décadas, manteve uma taxa anual de desflorestação entre as mais baixas do continente, ao redor de 6.560 hectares. A controvérsia intensifica-se ainda mais com um recente relatório do Monitoring of the Amazon Project (MAAP), que aponta para uma área sob consideração ainda maior que a inicial — cercando 467.000 hectares, dos quais 451.000 são de floresta primária.
O impacto social e ambiental dessa política é uma preocupação constante. O ativista dos direitos humanos e membro da tribo Saamaka, Hugo Jabini, aponta a omissão do governo em comunicar-se com as populações florestais, acusando-as de priorizar benefícios políticos e interesses econômicos próprios. Este cenário estimula investigações sobre o Ministério de Política Territorial e Gestão Florestal e ações legais por grupos indígenas. A Associação de Chefes de Aldeias Indígenas em Suriname (VIDS), por exemplo, emitiu uma declaração categorizando como inaceitáveis as alocações de grandes áreas para fins agrícolas em larga escala.
Riscos tangíveis: Suriname, um dos poucos países do mundo com uma economia carbono-negativa graças aos seus 93% de cobertura de floresta primária, enfrenta agora o desafio de equilibrar as taxas de pobreza e escassez de alimentos com o desenvolvimento sustentável. A pressão crescente para explorar novas fontes de renda vê na agricultura um dos caminhos mais promissores. Contudo, essa escolha vem acompanhada pelo fantasma da perda potencial de até $2 bilhões anuais em serviços de captura e armazenamento de carbono proporcionados pela floresta.
Forças locais, inclusive colonos menonitas, conhecidos por sua expansão agressiva e desflorestação em outras nações latinas, já estão em negociação com o governo para estabelecer fazendas em Suriname, exaltando ainda mais as preocupações de grupos de conservação. Enquanto isso, a resistência se organiza: uma petição direcionada ao Presidente da República de Suriname busca elevar a conscientização e impedir o progresso do desenvolvimento agrícola. As comunidades marrom, por meio do Maroon Awareness Platform, expressam descontentamento com a falta de comunicação do governo, o que muitas vezes as deixa por último no conhecimento dos planos de desenvolvimento.
A tensão adicional surge com a falta de reconhecimento formal dos direitos à terra indígena em Suriname e a paralisação da legislação pertinente no parlamento, o que traz incerteza sobre a continuidade dos esforços nesse sentido. Rabin Parmessar, membro do parlamento, clama por uma urgente investigação das ações do Ministro de Política Territorial e evidencia um crescente descontentamento com a falta de transparência ministerial.
As ramificações desta política são amplas e a discussão se intensifica na medida em que organizações indígenas ponderam apresentar seu caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos na Costa Rica, diante de possíveis violações de direitos humanos na América Latina.