O artigo Development Pathways and the Political Economy of Maladaptation: The Case of Bioenergy as a Climate Strategy in Brazil oferece uma análise crítica sobre a institucionalização da bioenergia como estratégia climática no Brasil, destacando o conceito de maladaptação. A pesquisa examina como trajetórias históricas e interesses políticos perpetuam estratégias climáticas supostamente sustentáveis, como a expansão da bioenergia, que na prática revelam-se prejudiciais do ponto de vista socioambiental.
O estudo detalha como a expansão da bioenergia, especialmente o etanol de cana-de-açúcar, foi inicialmente impulsionada por interesses do governo em garantir segurança energética diante de crises econômicas, particularmente durante a crise do petróleo dos anos 1970. Neste contexto, a produção de bioenergia se tornou uma saída para crises no setor sucroalcooleiro.
A análise também mostra que a bioenergia no Brasil, ao longo dos anos, foi institucionalizada mediante várias políticas e regulamentos governamentais que, muitas vezes, priorizavam interesses econômicos da indústria canavieira em detrimento de preocupações socioambientais. Esse movimento culminou na consolidação do bioetanol como uma estratégia de descarbonização no setor de transportes e como ferramenta diplomática em debates internacionais sobre o clima.
Nos anos 2000, uma nova expansão da bioenergia aconteceu, alavancada por pressões internacionais por redução de emissões. Contudo, essa expansão ainda estava alinhada com interesses econômicos pré-existentes, enraizados na história do setor. A leitura ambientalista serviu como um “colete salva-vidas” político, garantindo à indústria sucroalcooleira apoios necessários em tempos de crise.
A pesquisa revela um paradoxo na utilização da bioenergia como estratégia climática. Apesar de sua justificativa ambiental, a expansão do setor açucareiro contribuiu para degradações ambientais significativas, como a perda de biodiversidade e mudanças no uso do solo, ampliando a pressão sob biomas como o Cerrado. Assim, a bioenergia se configurou como uma estratégia maladaptativa para as mudanças climáticas.
Um dos pontos principais ressaltados pelo estudo é o fato de que apesar dos impactos adversos reconhecidos, a bioenergia continuou sendo promovida como uma solução “verde” na arena política internacional. Essa “lavagem verde” facilitou a adoção de políticas mais expansivas em prol do setor açucareiro brasileiro, impactando a integridade do processo global de governança climática.
Concluindo, a pesquisa enfatiza a importância de analisar por que certas estratégias climáticas são adotadas, mesmo contra o peso das evidências que mostram seus efeitos deletérios. O estudo serve como um alerta para reavaliarmos a interface entre caminhos de desenvolvimento, interesses econômicos e a governança climática global, indicando a necessidade de mais pesquisas que integrem história e economia política para enfrentar o desafio da maladaptação.
Fonte: {Development Pathways and the Political Economy of Maladaptation: The Case of Bioenergy as a Climate Strategy in Brazil}. {https://link.springer.com/article/10.1007/s12116-024-09439-x}