Crescem as emissões globais na produção de carne e leite.

Em um contexto de preocupações crescentes com a sustentabilidade global e a urgência de mitigar as mudanças climáticas, o setor de carne e laticínios enfrenta desafios significativos. Um recente levantamento do Coller FAIRR Protein Producer Index aponta que, apesar de algumas melhorias em práticas sustentáveis, as emissões globais provenientes das maiores companhias produtoras de carne e leite continuam em ascensão, um fator que chama a atenção em um ano crucial para as discussões climáticas, marcado pela realização da COP 28 em Dubai.

O índice, que analisou 60 produtores de proteína animal de capital aberto avaliados em US$ 364 bilhões, mostrou um aumento de 3,28% nas emissões comparando os anos de 2022 e 2023 entre as 20 maiores empresas do setor. Os rebanhos globais são responsáveis por 14,5% das emissões de gases de efeito estufa, indicando a necessidade de uma ação estruturada e contínua no sentido de reduzir esse impacto.

No cenário brasileiro, a análise trouxe resultados mistos. Enquanto a Minerva Foods mostra progresso, subindo de posição no ranking devido ao controle de emissões, a JBS registrou um aumento de 5,6% em suas emissões, causando uma queda significativa na sua colocação. Por outro lado, a Marfrig manteve-se como referência, continuando a ser a única empresa brasileira considerada de baixo risco para investidores no que se refere a práticas ESG.

A metodologia empregada pela FAIRR inclui a avaliação em dez diferentes tópicos relacionados a práticas sustentáveis e governança corporativa. Avanços foram reconhecidos na transparência de dados, com 40% das empresas do topo do ranking informando sobre suas emissões de Escopo 3. Essa abordagem mais aberta quanto às emissões da cadeia produtiva é fundamental, representando cerca de 90% das emissões totais do setor.

Questões éticas também são levantadas quando observamos que a produção intensiva, comum no Hemisfério Norte, é parte substancial do problema, levando a uma pegada de carbono significativa. Além disso, exemplos de boas práticas são destacados, como os esforços da Danone, que estabeleceu metas alinhadas com a Science-Based Targets initiative (SBTi) e se comprometeu a reduzir emissões de metano na produção de leite fresco.

Apesar dos progressos notados em algumas empresas, o índice Coller FAIRR enfatiza que ainda há um longo caminho pela frente. A maioria das grandes companhias do setor ainda não reporta adequadamente suas emissões de Escopo 3 e algumas sequer oferecem dados sobre suas emissões, enfatizando a necessidade contínua de intervenção dos investidores para uma transparência maior e a adoção de medidas efetivas para gerenciar o risco climático.

A urgência em agir é também destacada por especialistas do setor financeiro, como o diretor de investimento responsável do Danske Bank da Suécia, evidenciando que medidas são necessárias para o setor agrícola, que utiliza metade das terras habitáveis e contribui para a desflorestação, perda de biodiversidade e emissões vinculadas ao setor da carne e dos laticínios. Com o mundo cada vez mais atento às questões de sustentabilidade e ESG, o setor é pressionado não somente a aumentar a transparência, mas principalmente a efetivar ações de mitigação dos impactos ambientais de suas operações.


Fonte: https://pagina22.com.br/2023/11/07/crescem-as-emissoes-globais-na-producao-de-carne-e-leite/

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