Com a acuidade que a urgente crise climática requer, o presidente Emmanuel Macron estabeleceu as diretrizes necessárias para uma política internacional de clima que aspire a equacionar os desafios do aquecimento global e da preservação da biodiversidade, ao mesmo tempo em que procura combater a pobreza e as desigualdades sociais. Em um contexto onde conflitos como a guerra na Ucrânia e os conflitos em Gaza se impõem na cena mundial, Macron destaca a importância de não perdermos o foco coletivo nas prioridades ambientais, reiterando o compromisso para a redução das emissões de gases de efeito estufa e a neutralidade de carbono até 2050.
A franca comunicação de Macron reforça a necessidade de acelerar a transição ecológica e reafirma a responsabilidade das economias avançadas, que historicamente mais contribuíram para as emissões de CO2, em se desvincular dos combustíveis fósseis. O abandono do carvão até 2030, do petróleo até 2045 e do gás até 2050 são metas inegociáveis para cumprir os objetivos do Acordo de Paris.
Enquanto as nações do G7 encabeçam o movimento de afastamento do carvão, com a França prevendo atingir essa meta já em 2027, economias emergentes também se tornaram grandes consumidoras deste recurso. Neste cenário, Macron sublinha a necessidade de agilizar o financiamento em energias renováveis e na energia nuclear como fontes gerenciáveis e descarbonizadas. A viabilização da transição ecológica também passa por medidas que possam punir financeiramente os investimentos em combustíveis fósseis, como a criação de taxas de juros diferenciadas para empréstimos ‘verdes’ e ‘marrons’.
O comprometimento financeiro com as nações mais vulneráveis é um ponto crítico. A sugestão é que se ultrapassem as práticas de ‘assistência ao desenvolvimento oficial’, replicando para essas nações as políticas fiscais e monetárias almejadas pelos países ricos durante a pandemia de COVID-19. Macron relata que, seguindo uma iniciativa parisiense de 2021, foram liberados mais de US$100 bilhões em Direitos Especiais de Saque (SDRs) para os países vulneráveis, além da mudança das regras de dívida e do mandato dos bancos de desenvolvimento multilaterais, como o Banco Mundial.
Pactos pioneiros firmados pela França na COP28, com países detentores de importantes reservas de carbono, como Papua Nova Guiné e as Repúblicas do Congo, estabelecem um precedente para um mercado voluntário de carbono reformado, visando maior retribuição pela preservação da biodiversidade. A proteção dos oceanos, como maiores sumidouros de carbono, e a atualização das leis internacionais neste âmbito foram outros temas ressaltados por Macron, que também anunciou a realização da Terceira Conferência dos Oceanos das Nações Unidas em 2025 na França, buscando avanços legais contra a poluição por plásticos e pela salvaguarda das profundezas marinhas.
Para as reformas propostas lançarem raízes duráveis, contudo, Macron vê como imperativa uma reforma do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, argumentando ser isso fundamental para estabelecer normas globais e financiar a transição verde global. Passados 80 anos de sua criação, essas instituições ainda carecem de fundos suficientes frente à magnitude da economia e população global, e um desequilíbrio perdura no que concerne à participação de países emergentes e em desenvolvimento em sua governança.