Cientistas reforçam papel central da ciência diante da crise climática e da perda de florestas

Uma década após a assinatura do Acordo de Paris, os retrocessos na agenda climática global têm se acumulado. A constatação partiu de especialistas reunidos no Fórum Brasil-França sobre Florestas, Biodiversidade e Sociedades Humanas, realizado no Museu Nacional de História Natural de Paris, como parte da programação da FAPESP Week França. Segundo os participantes, reorientar os debates e políticas públicas com base na ciência é essencial para conter o aquecimento global, a perda de florestas e o declínio da biodiversidade.

A embaixadora francesa do meio ambiente, Bárbara Pompili, destacou em sua fala de abertura que, apesar das evidências acumuladas, ainda há negacionismo climático e ataques à credibilidade da ciência. Para ela, fóruns científicos internacionais são cruciais para articular respostas conjuntas e aprofundar o entendimento sobre as atuais crises ambientais. “Precisamos continuar a trabalhar juntos, além de nossas fronteiras, para podermos entender melhor a magnitude desses problemas e nos prepararmos melhor para o futuro”, afirmou.

Rita Mesquita, secretária nacional de biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, reforçou que soluções eficazes ao desafio climático dependem de ações que reconheçam a centralidade da biodiversidade. “Manter a natureza significa conservar a base de sustentação da vida na Terra”, sintetizou.

Durante o encontro, Giles Bloch, diretor do museu anfitrião, chamou atenção para a complexidade e vulnerabilidade dos ecossistemas florestais. Diferentes tipos de florestas em todo o mundo enfrentam pressões simultâneas — desde mudanças climáticas até uso intensivo por atividades humanas. “A floresta é um ecossistema interdependente e mantê-la representa um desafio crescente”, disse Bloch.

Esse desafio é particularmente relevante para o Brasil, lembrou Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP. Com mais da metade do território nacional coberto por florestas, o país possui responsabilidade estratégica na agenda climática e ambiental. Ele ressaltou que a FAPESP fomenta há décadas pesquisas em biodiversidade, sendo responsável por mais de 5,7 mil projetos relacionados a água e saneamento, quase 4 mil sobre mudanças climáticas e 1,8 mil vinculados à vida terrestre. O Programa BIOTA, com 25 anos de atuação, já financiou mais de 350 estudos nessa área.

A cooperação com a França neste campo tem sido frutífera. De acordo com Claire Giry, presidente da Agence Nationale de la Recherche (ANR), a parceria com a FAPESP viabiliza propostas conjuntas e permite o reconhecimento mútuo dos resultados pelas agências. Essa colaboração favorece pesquisas estratégicas com foco socioambiental de longo prazo.

Um exemplo citado foi o avanço no entendimento da ocupação humana da floresta amazônica. Eduardo Neves, diretor do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, apresentou resultados de estudos arqueológicos que contrariam a visão de que a Amazônia foi apenas marginalmente habitada no passado. Segundo ele, populações indígenas vivem na região há pelo menos 13 mil anos e desempenharam papel ativo na modificação da paisagem. “A floresta é patrimônio ecológico e biocultural. Não há futuro para ela sem levar em conta os saberes tradicionais”, destacou.

Além do eixo ambiental, também foram anunciadas novas ações institucionais. A FAPESP assinou um memorando de entendimento com o Instituto Francês para realização de simpósios conjuntos sobre temas como clima, transição ecológica e democracia global. Os debates ocorrerão entre cientistas paulistas e franceses, com perspectivas de gerar diálogo internacional estruturado sobre temas prioritários do século 21.

Com extensa participação de representantes brasileiros e franceses de universidades, fundações e organismos multilaterais, o fórum reforçou o papel central da ciência colaborativa face a problemas transnacionais. Em meio à urgência climática, o evento acendeu um alerta: reconhecer e reagir às múltiplas frentes de crise requer mais do que promessas — exige políticas fundamentadas em dados, envolvimento das comunidades tradicionais e investimento consistente em ciência aplicada.

Fonte: Ciência é vital para conter aquecimento global e a perda de florestas e de biodiversidade

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