AmazonFace: a janela futurista para os impactos climáticos na Amazônia apresentada na COP28

À medida que a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28) marcou os ânimos globais no que tange à conservação ambiental e os impactos do aquecimento global, o olhar atento se voltou para um projeto estratégico de elevada relevância: o AmazonFace (Free-Air CO2 Enrichment). Este grandioso laboratório ao ar livre, sediado cerca de 70 quilômetros de Manaus, visa decifrar como a floresta amazônica pode reagir ao previsível aumento da concentração de CO2 atmosférico.

O experimento foi uma das atrações no Pavilhão Brasil e no Pavilhão do Reino Unido durante o evento. Sob a coordenação do pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Carlos Alberto Quesada, seis estruturas circulares, às quais três estarão destinadas a aspersão de CO2 e três a aspersão de ar ambiente para fins de controle, proporcionarão uma simulação controlada da concentração de gás carbônico que poderá ser encontrada no ano de 2060.

A questão que permeia é a incerteza quanto à resiliência da floresta frente a esse novo cenário, particularmente a influência da escassez de fósforo no solo amazônico nesta dinâmica. Também há curiosidade na resposta das plantas e animais da Amazônia, uma vez que a biodiversidade é notável, como ressaltado por Adriane Esquivel-Muelbert, da Universidade de Birmingham. David Lapola, pesquisador da Unicamp e igualmente coordenador do AmazonFace, destaca a função reguladora da floresta no clima global, reforçando a magnitude de tal pesquisa para a humanidade.

A pesquisa do AmazonFace engloba também uma reflexão acerca dos impactos sociais e econômicos decorrentes das mudanças climáticas, como na produção local de açaí. Reconhecendo a necessidade de estabelecer a ligação entre processos ecológicos e serviços ecossistêmicos, a interdisciplinariedade e a complexidade do projeto são sublinhadas. O projeto, que conta com o suporte financeiro do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do governo britânico, almeja estar inteiramente montado até a COP30, a se realizar em novembro de 2025, em Belém.

Osvaldo Moraes, representante do MCTI, destacou a singularidade do AmazonFace em investigar o impacto das mudanças climáticas na mais vasta floresta tropical do planeta. Este engajamento reflete a disposição do governo em ‘recolocar a ciência no centro do Brasil’, firmando o relevante papel do país nas negociações climáticas futuras. À frente da COP30, espera-se que a ciência reassuma seu protagonismo, contribuindo para tomadas de decisão mais informadas nas conferências do clima, conforme sugestão de Lapola em parceria com outras instituições de ensino.

Entre as várias vozes que ressoaram na COP28, Puyr Tembé, secretária de Estado dos Povos Indígenas do Pará, reivindicou a urgência de compartilhar responsabilidades e fazer com que as sociedades civis se mobilizem em preparação para a COP30. Carina Vitral, economista e assessora do Ministério da Fazenda, reiterou que para a descarbonização da economia e um desenvolvimento sustentável frutífero, é indispensável que os países desenvolvidos honrem seus compromissos financeiros. O primeiro dia da COP28 testemunhou, inclusive, a aprovação de um fundo que visa amparar países menos desenvolvidos contra perdas e danos causados pelas adversidades climáticas, destacando a diferença entre os fundos comprometidos e a real necessidade de investimentos para enfrentar os desafios do clima e sua adaptação.

Enquanto a COP30 se aproxima, emanam expectativas promissoras, onde, conforme enfatizado por Patricia Ellen, do ecossistema AYA Earth Partners, o Brasil se mostra como um protagonista potencial na transição para uma economia de baixo carbono. Assumir essa liderança poderá catalisar processos significativos, tanto no âmbito nacional quanto latino-americano, em prol de um ambiente globalmente sustentável.


Fonte: https://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2023/12/11/na-cop30-os-olhos-estarao-na-amazonia

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