Em um dado alarmante recentemente divulgado pelo Banco Central Europeu (ECB), constatou-se que uma considerável parcela dos bancos da zona do euro está em uma contradição flagrante com o processo de transição para uma economia de baixo carbono. Noventa por cento das principais instituições financeiras estão operando de maneira desalinhada com as metas de emissões estabelecidas pelo Acordo de Paris. A revelação surge como parte de um estudo que analisou 95 instituições significativas, o que ressalta uma desconexão com as necessidades de uma estratégia verdadeiramente sustentável para o clima.
O setor energético foi destacado como o principal responsável, onde a persistência no uso de tecnologias intensivas em carbono, o financiamento insuficiente para energia renovável e o apoio contínuo à produção de petróleo e gás fora da zona do euro foram especialmente criticados. Esse cenário é agravado pelo pacote de legislação ambiental da União Europeia, conhecido como ‘green deal’, que estabelece o objetivo ambicioso de reduzir as emissões em 55% até 2030, e, no longo prazo, zerá-las.
Além das implicações ambientais, a análise do BCE também chama atenção para o potencial impacto na solidez dessas instituições financeiras. Aqueles bancos com empréstimos substanciais aos setores poluentes podem enfrentar um aumento significativo no risco de inadimplência em massa. A incompatibilidade das práticas de empréstimo dos bancos com as diretrizes ambientais poderia levar à sua insolvência. Sete em cada dez bancos analisados também correm o risco de enfrentar processos judiciais devido à falha na adaptação dos seus procedimentos de empréstimo, apesar de compromissos públicos assumidos com os termos do Acordo de Paris.
Uma mudança de enfoque na gestão de risco e no cumprimento da regulamentação ambiental torna-se cada vez mais crucial para as instituições financeiras. Supervisores já manifestaram preocupação sobre a segurança dos empréstimos dos bancos poluentes e ameaçam aplicar multas ou exigências de capital aumentado. Frank Elderson, vice-presidente do braço de supervisão do BCE, já fez ameaças de sancionar os bancos que não levarem a sério as questões climáticas, criticando, ainda, as autoridades legislativas por permitir exceções para os bancos em novas regras de divulgação ambiental.
Esse estudo do BCE lança luz sobre uma questão crítica em relação ao financiamento dos esforços climáticos e a necessidade de que os bancos se realinhem com as expectativas sociais e regulamentações sobre a transição energética e ecológica. A Europa passa por um período de reformulação legislativa em matéria ambiental em que se espera que o setor financeiro desempenhe um papel fundamental na viabilização dos custos para essa transformação verde.