Você sabe o que está comendo? Como os ultraprocessados mudaram o mundo – e o que devemos fazer a respeito

Em um cenário global onde a bioeconomia se apresenta como um pilar estratégico para o desenvolvimento sustentável, a discussão em torno dos sistemas agroalimentares e a produção de alimentos ultraprocessados ganha destaque. Recentemente, no Fórum Econômico Mundial realizado em Davos, Suíça, este tema foi colocado no centro do debate, ressaltando a importância de repensar a nutrição e o impacto dos alimentos ultraprocessados na saúde humana. O professor Ricardo Abramovay, titular da cátedra Josué de Castro da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), compartilhou insights valiosos sobre esta questão, evidenciando a necessidade de uma transformação nos sistemas agroalimentares atuais em entrevista ao canal AgroMais.

A trajetória histórica da produção alimentar revela uma evolução marcada pela Revolução Verde, focada na maximização da produção de alimentos através da monocultura, sementes modificadas geneticamente e uso intensivo de fertilizantes químicos e agrotóxicos. Esse modelo, embora tenha sido eficaz em reduzir significativamente a fome no mundo, hoje enfrenta desafios críticos, como a erosão da biodiversidade e a vulnerabilidade a eventos climáticos extremos, além de promover uma dieta baseada em alimentos ultraprocessados.

Os alimentos ultraprocessados, caracterizados pela adição de numerosos aditivos químicos e por uma reduzida participação de ingredientes naturais, dominam a dieta em países como Estados Unidos e Reino Unido, contribuindo para a pandemia global de obesidade. No Brasil, contudo, a prevalência de tais produtos é menor, graças a hábitos alimentares mais diversificados e tradicionais, como o consumo de arroz e feijão.

O desafio contemporâneo transcende a questão da fome, abordando a qualidade dos alimentos consumidos e a sustentabilidade dos sistemas de produção. A diversificação das culturas agrícolas, promovendo a resiliência e adaptabilidade às mudanças climáticas, emerge como uma necessidade premente. A transição para sistemas agroalimentares mais diversificados e sustentáveis requer uma abordagem multifacetada, incluindo inovações tecnológicas, mudanças nos hábitos de consumo e uma gestão mais integrada dos recursos naturais.

Na busca por soluções, a experiência africana com o desenvolvimento de culturas tradicionais e subutilizadas oferece valiosas lições. A aposta na genômica e em tecnologias agrícolas avançadas, aliada a uma visão holística que respeita a biodiversidade e os ecossistemas locais, aponta caminhos para a renovação dos sistemas agroalimentares globais.

O papel do Brasil, como potência agrícola, também é redefinido neste contexto. A soberania alimentar, entendida como a capacidade dos povos de nutrir-se respeitando suas culturas e diversidades biológicas, torna-se um objetivo global. A transição para uma agropecuária de cuidado, que valoriza a produção sustentável e a rastreabilidade, é fundamental para enfrentar os desafios contemporâneos de nutrição, saúde pública, mudanças climáticas e consequentemente comerciais.

Esta reflexão sobre os sistemas agroalimentares e a urgência de uma mudança paradigmática é um convite à ação. Exige-se uma colaboração transdisciplinar, envolvendo cientistas, produtores, consumidores e decisores políticos, no sentido de promover uma alimentação saudável, sustentável e acessível a todos. A mensagem do Fórum Econômico Mundial, ao colocar em evidência a crise dos alimentos ultraprocessados e a necessidade de repensar os sistemas agroalimentares, é um sinal claro da importância estratégica deste debate para o futuro da humanidade.

Conclui-se que a bioeconomia, com seu foco na inovação e sustentabilidade, oferece um framework valioso para abordar estas questões. A transição para sistemas agroalimentares mais diversificados e resilientes não é apenas uma necessidade ecológica, mas também uma oportunidade econômica, promovendo a saúde humana e a sustentabilidade planetária.

Fonte: AgroMais. Fórum Econômico Mundial acende alerta contra os alimentos ultraprocessados.

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