A Embrapa Acre tem avançado em um projeto essencial para a valorização e melhoramento do extrativismo do cacau nativo da região amazônica, especificamente na área de Boca do Acre, Amazonas. O projeto ‘Cacau Nativo’, realizado em colaboração com a Cooperativa Agroextrativista do Mapiá e Médio Purus (Cooperar), busca não apenas incrementar a produção como também evidenciar as características peculiares ligadas à origem desse cacau, identificadas por análises laboratoriais.
O extrativismo tradicionalmente ocorre em áreas de várzea, onde a coleta é dificultada pelas cheias do rio Purus. O projeto visa aumentar a resiliência dos processos produtivos, apoiando agricultores no cultivo de cacau em terra firme como parte de Sistemas Agroflorestais (SAF), juntamente com espécies como castanheira e açaí. A iniciativa pretende prover maior estabilidade e diversificação produtiva, superando os desafios impostos pela sazonalidade das cheias.
O compromisso da Embrapa com a inovação fica evidente nas palavras de Elias Miranda, pesquisador-chefe do projeto, que destaca práticas de adensamento do cultivo para aumentar o rendimento do extrativismo em áreas com menor risco de inundação. A implantação de unidades demonstrativas mais próximas à cidade de Boca do Acre também está prevista, com o intuito de facilitar a logística e a difusão de tecnologias.
A parceria com Embrapa é comemorada por José Antônio da Conceição Camilo, presidente da Cooperar. Ele reconhece o cacau produzido como um ‘produto fino’, já aprovado em mercados exigentes como Alemanha e Japão, e vê a colaboração como uma forma de assegurar qualidade e continuidade na produção.
O registro de Indicação Geográfica (IG) surge como um horizonte promissor para o projeto, que almeja resguardar as singularidades do cacau da região do Médio Purus. A classificação dos solos locais, realizada pela Embrapa com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), contribuirá significativamente para esse processo.
Sob a perspectiva econômica, o projeto ‘Cacau Nativo’ traz esperança para o aumento das rendas das comunidades ribeirinhas. A Cooperar, que apoia cerca de 470 famílias produtoras, viu a necessidade de diversificar mercados diante da diminuição da demanda europeia, impactada pela guerra na Ucrânia, começando a fortalecer suas vendas no território nacional, com compradores em São Paulo e na Bahia.
O projeto também responde a uma vocação sustentável, alinhando-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. Fomentar a produção local do cacau não apenas impulsiona a economia como também se compromete com a preservação da floresta, uma premissa que está no coração da bioeconomia.
A visão de futuro inclui a elaboração de um chocolate próprio, marcando a identidade e a qualidade do cacau trabalhado pela Cooperar, conforme anseios dos cooperados. Esta visão é compartilhada por Eliseu da Silva Souza, produtor experiente que viu a parceria como uma forma de qualificar e expandir o negócio que começou de forma artesanal na época de sua avó.
As atividades iniciais do projeto já mapearam a população de cacau nativo em área de várzea, oferecendo um panorama estratégico para o desenvolvimento da cultura que representa não apenas uma riqueza econômica, mas um legado ambiental e social para as gerações amazônicas presentes e futuras.