Tensões pesqueiras entre Tobago e Barbados: uma luta pela sustentabilidade e sobrevivência

As dinâmicas de pesca entre Trinidad e Tobago e Barbados têm sofrido tensões crescentes devido à migração de cardumes de peixe-voador, despertando preocupações sobre a sustentabilidade das práticas pesqueiras e a sobrevivência econômica das comunidades locais de Tobago. Práticas desiguais no gerenciamento dos recursos marítimos entre as ilhas vêm provocando disputas territoriais que ressoam há décadas, agora intensificadas pelas mudanças climáticas.

Em Tobago, a pesca artesanal é caracterizada pelo uso de pequenas embarcações e técnicas que respeitam os limites ecológicos dos ecossistemas marinhos. Por outro lado, as frotas de Barbados, com maior capacidade de armazenamento e permanência no mar, representam uma ameaça direta para a viabilidade dos estoques pesqueiros nesta região do Caribe. As embarcações barbadianas, equipadas para congelar o pescado e passar longos períodos no mar, têm sido acusadas por pescadores de Tobago, como Andel Daniel, de adotarem práticas insustentáveis que comprometem a pesca tradicional da ilha.

Nas negociações de acordos bilaterais sobre exploração de petróleo, gás e delimitação de zonas econômicas exclusivas que vêm ocorrendo desde os anos 70, apesar da assinatura conjunta da convenção das Nações Unidas sobre o direito do mar em 1982, e do Acordo de Pesca de 1990, as soluções ainda se mostram evasivas. O desacordo contínuo levou a questão a ser julgada pela corte de arbitragem em Haia em 2004, que rejeitou a argumentação de Barbados sobre os direitos de pesca nas águas de Trinidad e Tobago, mas a questão está longe de ser resolvida.

A mudança no padrão migratório dos peixe-voador, potencialmente desencadeada pelas alterações na temperatura da água devido à crise climática, desperta novas frentes de conflito, à medida que esses peixes, essenciais na dieta caribenha e na pesca de espécies pelágicas maiores, deslocam-se para águas de Tobago. A redução das populações desses peixes não só afeta a pesca de espécies de maior valor comercial, como também perturba o fornecimento para estabelecimentos alimentícios que retiraram tais peixes de seus cardápios devido à irregularidade nas capturas.

O surgimento do conflito entre os interesses pesqueiros de Tobago e Barbados fomenta uma negociação delicada, na qual se debate a soberania territorial e práticas pesqueiras responsáveis. Oficiais de pesca dos dois países reuniram-se em novembro para discutir estratégias de coleta de dados que lancem luz sobre as causas do declínio da população de peixe-voador. Reuniões entre lideranças dos dois países, como a premiê de Barbados, Mia Mottley, e o primeiro-ministro de Trinidad e Tobago, Keith Rowley, juntamente com representantes de associações de pescadores, ocorreram no contexto da Comunidade do Caribe (Caricom), com propostas de acordos baseados em pesquisas recém-anunciadas que poderiam desembocar em uma permissão de pesca licenciada similar ao acordo de 1990.

Este cenário de tensões e negociações sublinha a necessidade imperativa de abordagens sustentáveis na pesca, que respeitem as fronteiras ecológicas e contribuam para a manutenção de um meio ambiente marinho saudável capaz de sustentar não apenas a biodiversidade, mas também as comunidades que nela dependem para sua subsistência. No coração desta questão reside o equilíbrio entre a preservação ambiental e o desenvolvimento econômico nas regiões costeiras do Caribe.


Fonte: https://www.theguardian.com/global-development/2024/jan/09/caribbean-fishing-dispute-trinidad-tobago-barbados-flying-fish-sustainability

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