Em um evento que simboliza a força da cooperação acadêmica no Brasil, a terceira edição do Seminário USP Pensa Brasil reuniu universidades de todo o país para debater desafios ambientais, com um foco especial na Amazônia. Maria Arminda do Nascimento Arruda, vice-reitora da Universidade de São Paulo (USP), coordenou o encontro, que teve a abertura proferida por Emmanuel Zagury Tourinho, reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA).
O seminário teve um papel essencial e discursivo sobre as implicações ambientais críticas na Amazônia, propondo uma pauta colaborativa em antecipação à Conferência das Partes sobre Meio Ambiente, a COP 30, que será sediada em Belém, Pará, em 2025. Tourinho destacou que a parceria entre a USP e a UFPA é de vital importância para o fortalecimento da pesquisa no bioma amazônico, enfatizando que estas duas instituições estão na liderança das investigações científicas nessa área crítica.
Entre os temas abordados por Tourinho, quatro emergiram como fundamentais para o entendimento e desenvolvimento sustentável da Amazônia: a complexidade da realidade regional, o ponto de não retorno dos sistemas socioculturais, os riscos advindos de novos modelos de bioeconomia, e a divergência entre energia limpa e sustentabilidade. Segundo o reitor, a recomposição das agendas de pesquisa colaborativa entre universidades amazônicas e de outras regiões do Brasil representa um caminho promissor para abordar esses desafios.
Tourinho descreveu a Amazônia como uma região de múltiplas Amazônias, com uma diversidade de paisagens e arranjos socioespaciais que complicam a formação de políticas uniformes. As questões fundiárias, as problemáticas de saúde pública e os desafios educacionais são algumas das muitas camadas dessa complexidade. Ele fez uma analogia interessante ao comparar o manejo dos desafios amazônicos à resolução de um cubo mágico, onde tentar resolver uma parte parece sempre deixar outras áreas desfocadas e irresolutas.
Outro ponto crítico levantado por Tourinho foi a pressão crescente sobre as populações tradicionais da região. Assinalou que a manutenção da floresta está ligada ao conhecimento ancestral e práticas sustentáveis já estabelecidas por comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas. As ameaças que essas comunidades enfrentam, como perda territorial e impactos ambientais adversos, destacam a importância de proteger não apenas a biodiversidade, mas também os sistemas sociais que o sustentam.
Além disso, Tourinho alerta para a reinterpretação da bioeconomia. A noção de bioeconomia tradicional dessas comunidades é mais sociocultural e integrada ao ecossistema local, em contraste com os riscos da industrialização e globalização dos negócios baseados na floresta. Ele enfatiza a necessidade de modelos de negócios que não comprometam a integridade dos ecossistemas e fortaleçam as comunidades locais.
Por fim, a associação entre energia limpa e sustentabilidade foi desafiada. O reitor sugeriu que mesmo fontes de energia ditas limpas podem falhar em serem sustentáveis para todos os envolvidos, citando como exemplo os impactos sociais e ambientais negativos das hidrelétricas na Amazônia e das fazendas de energia eólica no Nordeste.
Com estas pautas bem delineadas, espera-se que o USP Pensa Brasil não apenas fomente discussões relevantes, mas também atue como catalisador para ações concretas e cooperativas entre as universidades brasileiras, alavancando o papel da ciência na condução de políticas públicas que respeitem e preservem um dos patrimônios naturais mais valiosos do planeta: a Amazônia.