Desenvolvimento da bioeconomia numa sociedade inovadora – Rússia

Em um universo onde a bioeconomia emerge como protagonista na resolução de complexos desafios globais e sustenta a construção de um futuro próspero, pesquisadores russos delineiam um caminho inovador para o desenvolvimento econômico assentado no conhecimento. Com crescimento populacional, desafios na segurança alimentar, exaustão de recursos minerais e energéticos, poluição ambiental em ascensão, avanços na exploração espacial e revoluções industriais transformadoras, a bioeconomia, também conhecida como economia verde, posiciona-se como o motor propulsor de benefícios duradouros à qualidade e esperança de vida humana.

O conceito de bioeconomia é interpretado por cientistas como uma interconexão entre múltiplas disciplinas, com destaque para a biologia e a biotecnologia, criando um tecido que entrelaça ciências naturais e humanas. Esta visão transdisciplinar ainda não possui um quadro teórico universal, revelando a necessidade de integração entre diferentes áreas científicas e práticas com o objetivo de atacar desafios econômicos nacionais vitais.

Consolidando a primazia do conhecimento como o vetor mais potente para o crescimento econômico e o desenvolvimento das nações modernas, nota-se uma tendência emergente: as nações que absorvem e implementam novos conhecimentos de forma eficaz, operando de maneira intensiva no saber, cultivarão desenvolvimento econômico entre 2030 e 2050.

Dentro da estrutura da bioeconomia destacam-se três abordagens. A abordagem baseada no conhecimento sublinha os princípios cognitivos da economia na alvorada da bioeconomia, integrando campos científicos variados. Do ponto de vista prático, a abordagem orientada a processos considera a bioeconomia como um processo sistemático de conversão de biomassa em novos produtos mediante a fusão das ciências. Já a abordagem de recursos enfoca na utilização eficiente dos recursos naturais, propagando a conservação de recursos e o aproveitamento sustentável de fontes renováveis.

Essas metodologias são exemplificadas por projetos inovadores, como uma fábrica química em Baviera, que usando um bioreator, transforma palha de trigo em etanol celulósico, alcançando um modelo de produção sem resíduos. A bioeconomia também promove uma sinergia entre fenômenos que antes pareciam discordantes: negócios e sustentabilidade, serviços do ecossistema e aplicações industriais, biomassa e produtos de consumo em massa. O coração pulsante dessa nova economia são as biotecnologias, interdisciplinares por natureza.

O início da nova década evidencia a relevância das biotecnologias no âmbito da inovação, apoiando-se fortemente no nível de pesquisa, desenvolvimento e produção. As pesquisas biotecnológicas pontuam êxito na criação de componentes biologicamente ativos, levando a avanços na produção de enzimas, vacinas, vitaminas, hormônios e antibióticos. Essa integração reduz os custos de produção na indústria e na agricultura, melhora a disponibilidade e qualidade de medicamentos, e eleva as condições ambientais. Com efeito, é previsto que biotecnologias representem a parcela de crescimento mais significativa da economia do século XXI.

Projeções indicam que, baseado em avanços biotecnológicos, 80% dos produtos médicos, 35% da produção da indústria química e 50% da produção agrícola serão derivados nessa modalidade até 2030. Para 2050, estima-se que o mercado global de bioenergia poderá atingir o valor de $150 bilhões, suprindo 30% da demanda energética global por meio de fontes renováveis. Países como EUA, Alemanha, Grã-Bretanha, China e Japão já demonstram progressos notáveis, enquanto a Rússia ainda busca ampliar sua fração no mercado global de biotecnologia.

A fim de alavancar o setor de biotecnologia no território russo, clusters territoriais inovadores são criados com o intuito de nutrir sinergias entre empresas industriais, instituições educacionais e organizações científicas. Estes agrupamentos concentram-se na produção biotecnológica, abrindo caminho para substituições de importações e transferências de competências tecnológicas e empresarias de corporações internacionais.

No seio da bioeconomia, um foco especial é colocado nas biociências alinhadas à saúde – a denominada “biotecnologia vermelha”, que forma o setor de maior relevância científica e prática, dominando mais de 70% do mercado global de biotecnologia. A expectativa era que o mercado global de biotecnologia atingisse $600 bilhões até 2020 e cresça mais de 1,5 vezes até 2025.

Em conjunto com a expansão desses clusters, várias iniciativas estão sendo planejadas ou implementadas através de pacotes de subsídios, incentivos fiscais, acesso à infraestrutura especializada, entre outras medidas para promover o desenvolvimento dessas comunidades.

Em conclusão, a Rússia atua ativamente para ingressar e expandir no mercado da biotecnologia. A crescente demanda por produtos biotecnológicos catalisa a criação de empreendimentos de pesquisa e produção em diversos setores da biotecnologia. O suporte financeiro do estado estimula o nascimento de novas tecnologias e o desenvolvimento de instalações capazes de realizar ciclos completos de desenvolvimento de produtos biotecnológicos, aderindo a padrões como GLP, GCP e GMP.

Fonte: E. Guzueva, T. Magomaev, e A. Adymkhanov, “Development of bioeconomy in an innovative society,” BIO Web of Conferences, vol. 76, Jan. 2023, Art. no. 08006, doi: 10.1051/bioconf/20237608006.

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