O agravamento da seca que atinge o Rio Colorado ameaça ressecar não apenas o solo, mas também secar as opções no corredor das hortaliças dos supermercados americanos. Uma realidade premente se impõe aos dados alarmantes que vêm das regiões ensolaradas e áridas da Califórnia e do Arizona, onde cerca de 90% dos vegetais de inverno são cultivados. A produção agrícola nessas áreas, crucial para o abastecimento do país, depende substancialmente das águas do Rio Colorado – um recurso que responde pelo consumo de até 79% do fluxo anual.
Com a necessidade imperativa de cortes, imposta pelas negociações dos estados e da administração Biden para conservar água pelos próximos 20 anos, o setor agrícola se vê diante da iminente necessidade de absorver uma grande parcela desses cortes. Uma projeção preocupante sugere que em um futuro próximo, extensas áreas de cultivo no Oeste americano poderiam ficar áridas para garantir que água suficiente alcance as torneiras das metrópoles e as linhas de produção industrial.
A escassez de água pode conduzir a transformações significativas, como o aumento na dependência de importações de alimentos e a escalada nos preços ao consumidor, que até então têm desfrutado de uma grande diversidade de produtos a preços acessíveis durante o inverno. Há uma expressiva preocupação de que a redução na oferta de alfaces, couve-flor, aipo, cebolas, beterrabas e melões, habitualmente disponíveis o ano inteiro, possa não só afetar os preços, mas também restringir o acesso do consumidor a esses produtos.
Diante desse cenário desafiador, os cultivadores da bacia do Rio Colorado antevêem um futuro onde a inflação alimentar poderia restringir o acesso a esses vegetais. Organizações e gestores hídricos repudiam a ideia de abandonar culturas como o alfafa e outros forrageiros – imprescindíveis à produção alimentar da nação –, mesmo diante das complexidades de realocar cultivos e dos investimentos já realizados em infraestrutura especializada e relacionamentos comerciais.
O Departamento do Interior já iniciou programas que incentivam curtos períodos de não cultivo ou o investimento em uma infraestrutura mais eficiente no uso de água. No coração dessa disputa pelo recurso hídrico, encontram-se não apenas os alimentos, mas também mais de 40 milhões de pessoas que dependem das águas do Rio Colorado, que fluem desde o Colorado até a Califórnia. As conversações em andamento do governo Biden visam gerir o plano de longo prazo para a administração do rio, que guiará os potenciais cortes caso as condições de seca persistam.
O temor é palpável: sem a infraestrutura destinada à condução das águas do Rio Colorado para essas regiões, ou os grandes reservatórios construídos para captar excedentes em anos chuvosos, grande parte das terras hoje dedicadas à agricultura seria simplesmente desértica. Tais mudanças podem não apenas revolucionar a paisagem, mas também a maneira como os Estados Unidos lidam com sua soberania alimentar, tornando o país ainda mais dependente de nações estrangeiras para um bem tão fundamental quanto a comida – uma vulnerabilidade que a pandemia salientou ser arriscada demais para ser ignorada.
Portanto, a diminuição do volume de água do Rio Colorado não é apenas um sinal de alerta para os agricultores, mas um sinal de mudança para toda a cadeia produtiva de alimentos, que poderá assistir transformações como a aposentadoria de centenas de milhares de acres de terras agrícolas e uma crescente confiança em alimentos importados. É um chamado à adaptação e a uma reflexão sobre os valores que regem as escolhas de consumo e produção em uma sociedade que enfrenta as prementes questões impostas pela mudança climática.
Fonte: https://www.eenews.net/articles/will-a-shrinking-colorado-river-shrivel-the-produce-aisle/