Peatlands (Turfeiras): são ecossistemas úmidos onde a matéria vegetal morta se acumula ao longo do tempo, formando um solo rico em carbono chamado turfa. Essas áreas são importantes para o armazenamento de carbono e a conservação da biodiversidade.
Em uma análise aprofundada e reveladora sobre os mais recentes desenvolvimentos em bioeconomia, destaca-se a revitalização de turfeiras como uma promessa unificadora entre economia e conservação. Cobrindo apenas 3% da superfície terrestre global, essas áreas armazenam o dobro de carbono em comparação com todas as florestas do mundo, mas têm enfrentado um declínio acentuado devido à expansão agrícola e à extração pela indústria hortícola.
Vislumbra-se agora um movimento encabeçado por políticas públicas em países como Alemanha, Irlanda e Reino Unido, incentivando formas regenerativas de agricultura. O objetivo é conservar esses ecossistemas únicos e, ao mesmo tempo, explorar seu potencial para fornecimento de combustíveis, alimentos e materiais de construção. Na Irlanda, experiências com aquacultura em turfeiras (criação de organismos aquáticos em áreas de turfa) demonstram um sistema baseado na natureza, onde microorganismos do ecossistema filtram resíduos, evitando a poluição aquática comum em aquiculturas modernas.
Ao abraçar práticas sustentáveis, a Irlanda busca responder a crises de biodiversidade, poluição e segurança alimentar, enquanto abre espaço para indústrias bio-baseadas adjacentes, como a colheita de microalgas para novos alimentos e embalagens. Essas iniciativas, além de representarem um modelo replicável de desenvolvimento sustentável, prometem criar empregos locais de baixo carbono (empregos que geram menos emissões de gases de efeito estufa).
Enfrentando desafios semelhantes, a Inglaterra reconhece que áreas de turfa drenadas se tornaram significativas fontes emissoras de gases de efeito estufa. Uma solução proposta é a reinundação (restauração do nível de água original) de terras agrícolas, promovendo a restauração ambiental e o sequestro de carbono. Ainda que repleta de desafios econômicos, tal estratégia é apoiada por iniciativas governamentais e projetos como o Plano de Ação para Turfa da Inglaterra, que almeja benefícios ambientais avaliados em enormes cifras.
Os alemães, por sua vez, vislumbram em turfeiras rewetted (turfeiras reinundadas) a possibilidade de oferecer na economia bio-baseada materiais de construção, como o reed (junco) para telhados de colmo. A indústria textil, de papel e a substituição de plásticos também surgem como possibilidades decorrentes da valorização desse habitat único.
Enquanto isso, o esfagno, uma espécie de musgo profícuo em turfeiras, ganha atenção como alternativa ao uso hortícola da turfa, promovendo a criação de materiais bio-baseados e monitoramento ambiental. No Reino Unido, projetos como o de Speechly’s Farm ilustram o potencial agronômico do esfagno, assim com a ambição de identificar outras espécies úmidas com potencial econômico significativo.
O crescente reconhecimento da regeneratividade em práticas de agricultura em turfeiras demonstra um equilíbrio realista entre industralização e preservação de habitats, abrindo caminhos para uma bioeconomia sustentável que tem tanto a prosperar quanto a proteger.