Expansão de tecnologias verdes chinesas na América Latina: oportunidades e desafios geopolíticos

A presença cada vez mais marcante de tecnologias verdes provenientes da China na América Latina tem gerado um misto de receios e oportunidades na dinâmica geopolítica e de desenvolvimento sustentável da região. Enquanto veículos elétricos (EVs), painéis solares e baterias chineses adentram as cidades latino-americanas, os Estados Unidos observam com apreensão essa expansão, temendo perder terreno na nova corrida tecnológico-ambiental.

A liderança chinesa nesta área se reflete em números robustos: sua exportação desses produtos para a América Latina alcançou níveis de US$ 5 bilhões em 2021 e desde então quase dobrou. O Brasil figura como principal mercado, porém, o crescimento das exportações para a região como um todo é notável. Este desenvolvimento é evidenciado pela drástica redução de ônibus a gás por elétricos silenciosos e eficientes, como os da BYD, e a estrondosa porcentagem de 99% dos painéis solares importados da China em 2022.

Além disso, a participação da China não se restringe apenas à comercialização de produtos; o investimento direto no setor de energias renováveis e na infraestrutura elétrica da região tem apresentado crescimento significativo. A State Grid, companhia estatal chinesa, exemplifica essa tendência ao se tornar uma das maiores distribuidoras de eletricidade no Chile.

A relação simbiótica entre a América Latina e a China na esfera da tecnologia verde também traz benefícios, como a perspectiva de criação de empregos e de crescimento econômico, através da instalação de fábricas e da promessa de transferência de conhecimento, como a investida da Tsingshan em uma fábrica de processamento de fosfato de ferro-lítio no Chile.

A atenção dos EUA frente a este cenário é dividida entre preocupações com a segurança nacional, potencial influência política chinesa e as consequências econômicas para seus negócios e trabalhadores. Embora haja temor quanto ao excesso de oferta chinês e possíveis riscos à segurança associados a essas tecnologias, a necessidade de energias mais limpas se alinha aos interesses de segurança nacional de países como o Chile ao diminuírem a dependência de combustíveis fósseis instáveis.

Com o ambicioso plano da BYD de produzir EVs no Brasil e a crescente eletrificação das frotas pela América Latina, o engajamento com a tecnologia chinesa pode se configurar como uma realidade difícil de ser ignorada. Apesar das preocupações americanas, a falta de alternativas ocidentais comparáveis em preço e escala pode fazer com que a cautela preconizada pelos EUA encontre ouvidos surdos entre os líderes latino-americanos.

Acontece que, diante da urgência das transformações econômicas e ambientais globais, a América Latina caminha, possivelmente, na direção de uma maior parceria com a China em tecnologia verde, delineando um novo capítulo em sua trajetória de desenvolvimento sustentável e redefinindo a sua posição no tabuleiro geopolítico mundial.


Fonte: https://www.estadao.com.br/economia/the-economist-tecnologia-verde-china-america-latina/

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