Avanços significativos no campo da bioeconomia e medicina regenerativa emergem da Universidade Federal do Ceará (UFC), onde pesquisas inovadoras voltadas para o beneficiamento da pele da tilápia têm desenvolvido novos tratamentos e cirurgias. Este biomaterial surpreendente agora alcançou um marco significativo com a concessão de sua primeira patente no Brasil.
O método patenteado envolve o processo de preparo e conservação da pele do peixe no glicerol, um conservante que se mostrou eficaz na esterilização do material, removendo todas as bactérias potencialmente nocivas. Este avanço foi obtido graças aos esforços do time de especialistas da UFC e do médico Edmar Maciel Lima Júnior, que coordenou as pesquisas desde o início.
Desde 2015, a pele da tilápia tem estado no centro de um número crescente de estudos, sendo inicialmente empregada no tratamento de queimaduras de segundo grau e em feridas, tanto agudas quanto crônicas. A ausência de alternativas domésticas tornava este tipo de tratamento um desafio no Brasil, um cenário transformado pela utilização inovadora da pele do peixe, que agora se expande para outras áreas, incluindo procedimentos veterinários e cirurgias de reconstrução vaginal e redesignação sexual.
O sucesso deste material biológico é atribuído à presença de colágeno tipo I na pele da tilápia, que promove a cicatrização acelerada ao interagir com feridas e queimaduras, além de fornecer alívio da dor. Com a pesquisa avançando para a fase pré-clínica, esta duração de 18 meses na UFC resultou em etapas significativas como a esterilização, estudos toxicológicos e testes em animais, culminando em testes em humanos a partir de 2016.
A equipe, liderada por Odorico de Moraes e com os pesquisadores Carlos Roberto Koscky Paier e Felipe Augusto Rocha Rodrigues, também trabalhou em processos de detoxificação adicionais, que garantiram a segura aplicação em humanos. A patente desse produto foi também obtida nos Estados Unidos em 2021, um reconhecimento internacional expressivo.
O empenho e colaboração de 337 pesquisadores espalhados por nove países resultou em 87 projetos, 35 publicações e 24 premiações, revelando o impacto global da descoberta. Deste corpo de trabalho vieram inovações como a pele liofilizada, matriz acular e a extração de colágeno, todas sob processo de patenteamento.
Para além dos laboratórios, uma chamada pública para a transferência de tecnologia está sendo planejada pela UFC, buscando expandir a escala comercial do beneficiamento da pele de tilápia. Vale ressaltar que a tilápia-do-nilo em questão é o peixe mais consumido no Brasil, o que indica não só uma oportunidade de sustentabilidade no aproveitamento de recursos, mas também uma alternativa econômica viável para o setor de saúde do país.
Com esta informação, a audiência de engenheiros e profissionais do setor da bioeconomia pode vislumbrar o alcance e o potencial desta inovação. A bioeconomia se apresenta cada vez mais como uma área estratégica e relevante, capaz de aliar soluções sustentáveis e avanços tecnológicos em prol de uma medicina regenerativa mais eficaz e acessível.