Em uma iniciativa que promete aquecer as discussões sobre a gestão das mudanças climáticas, o Serviço Florestal dos EUA (USFS) está propondo uma alteração regulatória que pode ter um grande impacto na bioeconomia e na sustentabilidade ambiental. A entidade sugere a mudança de uma regra que permitiria o armazenamento de poluição por dióxido de carbono (CO2) sob as florestas nacionais e pradarias do país. Esta proposta alinha-se com o interesse crescente de diversas empresas americanas em uma solução climática possível denominada captura e armazenamento de carbono, apoiada pela administração Biden com incentivos fiscais bilionários e investimentos diretos.
O conceito que está sendo desenvolvido consiste em capturar o CO2 emanado das chaminés de fábricas e usinas de energia e transportá-lo para locais específicos, onde o gás seria injetado e armazenado sob a terra. Entretanto, essa ideia é rodeada de controvérsias, principalmente pelo fato de que a captura de carbono exigiria a construção de milhares de milhas de novos oleodutos. Comunidades nos quatro cantos dos Estados Unidos estão resistindo a esses projetos de oleodutos e locais de armazenamento subterrâneo, defendendo que não desejam que essa forma de poluição atravesse suas terras.
Os especialistas apontam várias reservas que permeiam esta proposta. June Sekera, um pesquisador associado à Universidade de Boston, destaca que o desenvolvimento de enormes infraestruturas industriais, inevitavelmente, levaria ao desmatamento significativo. Este é apenas um dos aspectos controversos dessa prática. As preocupações se estendem à segurança dos dutos: acidentes podem deslocar o oxigênio, e nuvens de CO2 podem ser perigosas para humanos e animais, como alerta Bill Caram, diretor executivo do grupo fiscalizador Pipeline Safety Trust.
Os riscos associados à ruptura de oleodutos se tornaram evidentes em 2020, após um incidente em Satartia, Mississippi, quando um duto se rompeu, levando pelo menos 45 pessoas ao hospital, muitas das quais ainda sofrem com problemas de saúde persistentes. Victoria Bogdan Tejeda, advogada no Center for Biological Diversity, reforça a gravidade do risco ao destacar a natureza inodora do CO2 e a possibilidade de que pessoas enfrentem dificuldades em pedir ajuda devido ao sinal ruim de celular nessas regiões florestais.
Além disso, críticos dessa tecnologia argumentam que a captura e armazenamento de carbono poderia ser utilizado para perpetuar as operações de combustíveis fósseis, contrariando as advertências dos cientistas climáticos de que é necessário reduzir rapidamente o uso de combustíveis fósseis para limitar os impactos devastadores das mudanças climáticas. Bruce Robertson, analista financeiro independente de energia, pontua que as instalações de captura e armazenamento não atendem às expectativas de eficiência prometidas.
A reação local contra a proposta de oleodutos de CO2 nos EUA tem sido feroz. Recentemente, a empresa Navigator CO2 desistiu de um projeto de oleoduto que cruzaria vários estados americanos, citando processos regulatórios “imprevisíveis” como justificativa. Diante desse cenário de resistência, a alteração proposta pelo USFS é vista por alguns, como Sekera, como uma tentativa de contornar a oposição das comunidades locais.
Scott Owen, oficial de imprensa do USFS, enfatizou que qualquer proposta de projeto de captura de carbono ainda deverá passar por uma triagem secundária, consistente com os processos regulatórios vigentes há mais de 20 anos. Atualmente, o USFS não tem nenhuma proposta de projeto de captura de carbono sob consideração. As opiniões públicas sobre a mudança de regulamentação proposta permanecerão abertas até o dia 2 de janeiro de 2024, permitindo que profissionais do setor, pesquisadores e o público em geral participem do debate em curso.