Indústria e economia circular: caminhos para aliviar a sobrecarga planetária

O conceito de Dia da Sobrecarga da Terra tem desempenhado um papel crucial ao destacar a situação crítica que nosso planeta enfrenta em termos de consumo exagerado de recursos naturais. Em 2024, essa data foi marcada para 1º de agosto, revelando que a humanidade consumiu, em apenas sete meses, o total de recursos que a Terra leva um ano inteiro para produzir e regenerar. Esse conceito é um forte alerta de que continuamos a recorrer a um perigoso “cheque especial” ecológico, utilizando mais do que o solo e os ecossistemas podem oferecer. No caso específico do Brasil, o marco ocorre pouco depois, em 4 de agosto, demonstrando que a escala de consumo excede a capacidade local de renovação natural.

Partindo dessa premissa, tornou-se imperativo não apenas reconhecer a problemática, mas, sobretudo, buscar soluções práticas. A noção de economia circular surge como um alicerce potencialmente transformador, com foco na eliminação de resíduos e poluição, na manutenção de produtos e materiais em uso e na regeneração da natureza. Este paradigma não só visa a sustentação dos processos produtivos, mas também a regeneração ambiental. Assim, ao priorizar redesenhar sistemas para garantir a manutenção de materiais e valor, esse modelo contribui para aliviar o fardo excessivo imposto ao planeta.

Um exemplo relevante de aplicação da economia circular é a indústria cimenteira. Esta tem adotado medidas concretas para mitigar seu impacto ambiental, principalmente através de duas estratégias principais: a redução do uso do clínquer e o coprocessamento de resíduos. A produção de cimento, notória por suas elevadas emissões de CO2, é majoritariamente influenciada pela fabricação do clínquer. Contudo, a substituição desse componente por subprodutos de outras indústrias – como escória de alto-forno e cinzas volantes – reduz significativamente a pegada de carbono, além de agregar valor a materiais outrora considerados subprodutos descartáveis.

O segundo pilar, o coprocessamento, destaca-se como uma notável solução de gestão de resíduos. Este processo transforma materiais residuais em energia, garantindo assim a redução de resíduos em aterros sanitários e suas consequentes emissões nocivas, como o gás metano. Os resíduos, ao serem integrados e destruidos nos fornos da indústria cimenteira a temperaturas elevadíssimas, são transformados em energia limpa, sem deixar passivos ambientais. Essa abordagem não apenas está em conformidade com a legislação vigente no Brasil e em outras regiões, como também incorpora uma prática de economia circular vital para o setor.

Ao adotar essas práticas, a indústria contribui para objetivos mais amplos de desenvolvimento sustentável, alinhando-se a metas globais como o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 17 da ONU, que propõe parcerias para atingir metas. Isso ressalta que os esforços conjuntos intersetoriais e transnacionais são condições necessárias para promover avanços sustentáveis reais. Portanto, torna-se evidente que a transformação da nossa relação com os recursos naturais depende de uma ação coletiva, que harmonize consumo consciente, inovação e resiliência ecológica.

Portanto, é crucial que indústria, governo e sociedade civil colaborem no desenvolvimento e na ampliação de tecnologias sustentáveis, não apenas para impulsionar a economia, mas, mais importante, para assegurar um futuro mais equilibrado e sustentável para todos. Tal compromisso requer uma mudança cultural e comportamental que priorize a conservação e o uso inteligente dos recursos naturais em prol da sustentabilidade global.


Fonte: https://envolverde.com.br/politica-publica/sociedade/como-a-industria-pode-ajudar-o-planeta-terra-a-sair-do-cheque-especial/

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