A palmeira macaúba, planta nativa das regiões tropicais e subtropicais do Brasil, tem ganhado destaque significativo no panorama global de bioeconomia. O investimento massivo de R$ 15 bilhões por parte do fundo árabe Mubadala, dos Emirados Árabes Unidos, sinaliza um importante passo para a produção de diesel verde e combustível sustentável de aviação (SAF) em larga escala. A primeira fábrica de SAF a partir de macaúba começará a ser erguida no segundo semestre deste ano em Mataripe, na Bahia.
O interesse dos investidores internacionais na macaúba é motivado pela alta produtividade de óleo da planta. A macaúba é capaz de produzir de seis a oito vezes mais óleo por hectare do que a soja, a atual principal commodity agrícola exportada pelo Brasil. Além disso, sua capacidade de utilização integral, produzindo óleo para consumo humano, indústria química, cosmética e de combustíveis, além do uso das fibras, farinha e cascas, coloca a planta como um forte candidato a ser a “nova soja“.
A empresa Acelen Renováveis, controlada pelo fundo Mubadala, já firmou um acordo de cooperação técnica de cinco anos com a Embrapa para viabilizar o cultivo em larga escala da macaúba. O ex-presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes, acredita firmemente no potencial desta planta para revolucionar o mercado agrícola brasileiro, destacando a demanda global crescente por óleo vegetal como um propulsor desse otimismo.
Enquanto os 200 mil hectares de macaúba projetados inicialmente não entram em produção plena, o que deve levar até 3,5 anos, a usina da Acelen funcionará com óleo de soja, consumindo o equivalente a toda a exportação anual de óleo de soja do Brasil, estimada em 2,3 milhões de toneladas. A expectativa é que, a partir de 2026, a usina produzirá até 20 mil barris por dia de SAF ou diesel verde, quantidade suficiente para movimentar mais de um milhão de veículos por ano.
Esse empreendimento, além de beneficiar o meio ambiente ao utilizar áreas de pastagens degradadas, também promete criar uma nova cadeia produtiva, estimada em movimentar aproximadamente R$ 87 bilhões e gerar cerca de 90 mil empregos diretos e indiretos. Pelo menos 20% do cultivo será realizado por agricultores familiares, proporcionando uma renda adicional significativa para pequenas propriedades.
Marcelo Lyra, vice-presidente de Relações Institucionais e Comunicação da Acelen, ressalta que a produção de SAF a partir da macaúba será extremamente competitiva, colocando a refinaria no primeiro quartil das maiores do mundo em termos de custo de produção. O projeto é visto como uma verdadeira criação de “florestas de bioenergia“, aproveitando créditos de carbono e utilizando terrenos subutilizados para criação de valor.
Embora a domesticação da macaúba ainda esteja nas fases experimentais, as expectativas são altas. A planta, mesmo não melhorada geneticamente, já mostra uma produtividade de óleo que supera a oleaginosa mais produzida do mundo, o óleo de palma. Pesquisas apontam que a macaúba pode render entre 4 mil e 5 mil quilos de óleo por hectare, contra 3,5 mil a 4 mil quilos do óleo de palma.
Para Victor Barra, diretor de agronegócios da Acelen, o maior desafio será o processamento eficiente do fruto da macaúba para maximizar a extração de óleo e o aproveitamento de todas as outras partes da planta. A integração total dos componentes biomásicos da macaúba visa a eliminação de resíduos, transformando tudo em produtos de valor agregado.
Com esse projeto, a macaúba se posiciona como uma nova promessa para o agronegócio e a bioeconomia brasileira, atendendo a demandas ambientais, econômicas e sociais de forma integrada e potencialmente transformadora.
Fonte: https://www.gazetadopovo.com.br/agronegocio/arabes-investem-bilhoes-no-brasil-em-macauba-nova-soja/