Modelo sustentável de bioeconomia pode revolucionar conservação e desenvolvimento da Amazônia

Um novo modelo econômico centrado no uso sustentável dos recursos da Amazônia e no apoio às comunidades indígenas está sendo proposto como uma forma de transformar os esforços de conservação e melhorar a qualidade de vida local. Essa abordagem inovadora, denominada socio-bioeconomia (SBE), é apresentada por um grupo de pesquisadores de seis países como um caminho para proteger a maior floresta tropical do mundo e seus habitantes.

Historicamente, a justificativa para o desmatamento em larga escala e a exploração da Amazônia foi o desenvolvimento econômico. Entretanto, segundo a professora Rachael Garrett, da Universidade de Cambridge, estas práticas não trouxeram benefícios amplos para as comunidades locais. Garrett destaca que meio século de desmatamento e exploração não resultaram no desenvolvimento amplo da região, além de ameaçar o valor econômico das áreas desmatadas, a segurança climática global e a segurança hídrica.

A bacia amazônica, onde além de conter mais da metade das florestas remanescentes do mundo, armazena grandes quantidades de carbono, está sob risco devido ao desmatamento contínuo e à mudança climática. Além de sua importância global, a Amazônia abriga numerosos povos indígenas e milhares de espécies de plantas e animais, o que faz dela um ecossistema vital e diversificado.

O modelo SBE propõe construir sob os sucessos das comunidades indígenas e tradicionais, focando no uso e na restauração sustentável dos ecossistemas amazônicos, ao mesmo tempo em que apoia as populações locais. Entre as atividades que exemplificam o SBE, encontram-se o turismo ecológico e a colheita sustentável de produtos vegetais para alimentos, bebidas, vestuário e medicamentos.

Para que o modelo SBE se torne realidade, os pesquisadores defendem aumentos significativos na mobilização social, no suporte tecnológico e na infraestrutura. Entre as principais mudanças políticas sugeridas estão redirecionar os subsídios governamentais do agronegócio para o desenvolvimento sustentável em menor escala, estabelecer programas de compras públicas que adquiram alimentos de comunidades indígenas e pequenos agricultores, e redirecionar financiamentos para atividades de conservação e restauração.

Além disso, é fundamental apoiar empresas comunitárias e garantir processos participativos para benefícios inclusivos a longo prazo. A professora Garrett cita o exemplo da marca de calçados Veja, que aplica princípios do SBE ao comprar borracha de pequenos agricultores amazônicos focando na construção de comunidades sustentáveis, sem depender de publicidade tradicional.

A importância desse modelo não pode ser subestimada, pois oferece uma solução potencial para proteger a biodiversidade amazônica, apoiar os direitos indígenas e mitigar a mudança climática enquanto fomenta o desenvolvimento econômico. Se bem-sucedido, o modelo SBE poderia ser adaptado para outras regiões enfrentando desafios similares de conservação e desenvolvimento.

Céticos podem argumentar que implementar uma mudança econômica tão radical é irrealista. No entanto, os pesquisadores defendem que o modelo econômico atual é insustentável e que a mudança é necessária. Permanecem dúvidas sobre como rapidamente um modelo SBE poderia ser ampliado e se poderia competir com os lucros de curto prazo das indústrias extrativas. Além disso, garantir uma distribuição equitativa dos benefícios dentro das comunidades locais será crucial para o sucesso do modelo.

Enquanto a comunidade global enfrenta as questões do clima e da perda de biodiversidade, o modelo SBE apresenta uma avenida promissora para reconciliar objetivos de conservação e desenvolvimento. Os pesquisadores enfatizam que a vontade política é essencial para tornar essa visão uma realidade. Estudos futuros provavelmente se concentrarão em projetos-piloto que demonstrem a viabilidade e os impactos das iniciativas SBE em diversos contextos amazônicos.


Fonte: https://scienceblog.com/546659/sustainable-bioeconomy-model-could-revolutionize-amazon-conservation-and-development/

Compartilhar