Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) revelaram que as áreas marinhas protegidas (AMPs) do Brasil, consideradas anteriormente como refúgios intocados, não estão isentas da contaminação por microplásticos. A pesquisa, publicada na revista Environmental Research, traz à tona um problema ambiental significativo ao destacar que até mesmo as Áreas de Proteção Integral (APIs) do país, reconhecidas pelo rigor nas restrições à intervenção humana, estão contaminadas.
O estudo usou ostras e mexilhões como organismos-sentinelas. Esses moluscos bivalves atuam como indicadores da condição ambiental ao acumular poluentes presentes na água do mar, oferecendo um histórico confiável de contaminação. Nas APIS estudadas, os pesquisadores detectaram a presença de microplásticos predominantemente em cores pretas, brancas ou transparentes, e de tamanhos inferiores a 1 milímetro.
Os microplásticos identificados incluíam polímeros alquídicos (usados em tintas e vernizes), celulose (de origem natural e antropogênica), polietileno tereftalato (PET) (comum em embalagens plásticas), e politetrafluoretileno (PTFE ou teflon) (utilizado em revestimentos industriais). Estes resultados revelam uma ameaça potencial para os ecossistemas marinhos, dado o efeito prolongado da poluição.
Conduzida pela doutoranda Beatriz Zachello Nunes, a pesquisa evidenciou que as APIs têm uma concentração média de 0,42 partículas de microplásticos por grama de tecido úmido. Em comparação, regiões altamente poluídas, como Santos, apresentam níveis de contaminação de até 50 vezes maiores do que as áreas de proteção integral.
Os estudiosos analisaram dez APIS, incluindo locais bem conhecidos como Fernando de Noronha e Abrolhos. Mesmo sob rigorosas medidas de proteção, a presença de microplásticos é um lembrete de que a poluição transcende limites geopolíticos, sendo muitas vezes transportada pelo vento e pelas correntes marítimas.
Ítalo Braga, coordenador da pesquisa, afirma que a criação de AMPs precisa ser complementada por uma gestão ambiental eficiente e fiscalização rigorosa. Contudo, ele destaca que apenas medidas globais, como o Tratado Global dos Plásticos, atualmente em negociação, podem efetivamente mitigar os efeitos adversos dos microplásticos.
Para compreender mais sobre este desafio global emergente e seus impactos, acesse o artigo Microplastic contamination in no-take Marine Protected Areas of Brazil: Bivalves as sentinels.
Fonte: {Áreas marinhas de proteção integral do Brasil estão contaminadas por microplásticos}. (https://agencia.fapesp.br/areas-marinhas-de-protecao-integral-do-brasil-estao-contaminadas-por-microplasticos/54231)