Análises independentes denunciam conexões perturbadoras entre marcas de moda amplamente reconhecidas na Europa e danos socioambientais no Brasil, em particular no bioma Cerrado. Um relatório recém-divulgado pela ONG Earthsight, intitulado ‘Fashion Crimes’, revela um elo entre a produção de algodão por marcas como Zara e H&M e ações prejudiciais que incluem desmatamento, grilagem de terras e violação de direitos humanos.
A ONG Earthsight sublinha que tais práticas ocorrem a despeito de esforços ostensivos de sustentabilidade, apontados nos selos de produção ostentados pelos produtos finais. A origem das matérias-primas é o oeste da Bahia, uma área que sofre com o desmatamento ilegal e onde o aumento do agronegócio tem dobrado a perda da vegetação em cinco anos conforme dados do Inpe.
A investigação de um ano desenterra a cadeia de fornecimento, que combina tecnologia de imagens de satélite e intensivo escrutínio de registros e emissões de mercadorias. Entre os suspeitos encontra-se o grupo SLC Agrícola, um grande exportador de algodão que, apesar de sua política de ‘desmatamento zero’ estabelecida em 2021, continuou suas atividades prejudiciais ao bioma. A companhia, porém, atribui o desmatamento recente a um incêndio natural, embora essa alegação se choque contra as multas aplicadas pelo Ibama, que já ultrapassam R$1,2 milhão em infrações ambientais.
A prática conhecida como ‘grilagem verde’ é também detalhada no relatório, com enfoque no grupo Horita. Essa manobra acarreta em desapossamento e inibição da capacidades de comunidades tradicionais, como as famílias geraizeiras na Bahia, de manter suas práticas de subsistência. O conflito de terras remonta a décadas, mas o escopo e a interconexão com esquemas corruptos, revelados pela Operação Faroeste da Polícia Federal, evidenciam um sistema vasto e prejudicial.
Não obstante, a cadeia de produção continua a sustentar grandes marcas europeias. Mais de 800 mil toneladas de algodão foram rastreadas desde as fazendas brasileiras até oito fabricantes asiáticos, todos conectados a Zara e H&M. As marcas mencionadas indicaram preocupação e urgência em lidar com as conclusões do relatório e no melhoramento dos padrões de rastreio e certificação.
Diante de tais acusações, a responsabilidade recai na implementação de políticas mais rigorosas e controle real aos padrões de sustentabilidade no mercado europeu. O relatório de Earthsight faz uma chamada para ações significativas que garantam a legitimidade da sustentabilidade da moda, ao invés do mero marketing de certificações falhas.