Rede de ‘estradas fantasma’ ameaça florestas tropicais da Ásia-Pacífico

Um estudo recente enfatiza que uma vasta rede de vias não documentadas, apelidadas de ‘estradas fantasma’, está avançando sobre as florestas tropicais intocadas da região Ásia-Pacífico, acelerando sua destruição. Pesquisadores da Universidade James Cook, na Austrália, por meio de intensivas análises via Google Earth, identificaram cerca de 1,37 milhão de quilômetros de estradas abertas em 1,4 milhão de quilômetros quadrados de floresta tropical nas ilhas de Bornéu, Sumatra e Nova Guiné. Essa quilometragem de estradas é de três a sete vezes superior ao que é oficialmente reportado nas bases de dados de estradas existentes.

Os traçados das ‘estradas fantasma’, que compreendem tanto pistas abertas em meio à floresta natural quanto estradas informais em plantações de palma, foram identificados como precursores ‘quase sempre’ certeiros da futura destruição das florestas nas proximidades. Os autores do estudo, divulgado na revista Nature, descrevem essas estradas como uma das ‘maiores ameaças diretas às florestas tropicais’. Segundo o Prof. Bill Laurance, coautor do estudo, essas vias são abertas por diversos grupos, desde agricultores legais ou ilegais, mineradores, madeireiros, invasores de terras, especuladores fundiários e até traficantes de drogas.

As consequências do desenvolvimento desregulado dessas estradas são dramáticas: um aumento significativo no acesso a áreas outrora remotas, facilitando enormemente atividades predatórias como a extração de madeira, mineração e desmatamento para limpeza de terras. O grupo de mais de 200 voluntários treinados e os autores do estudo dedicaram mais de 7.000 horas à análise, estimando que seriam necessárias 640.000 horas para mapear todas as estradas do planeta. Com a previsão de 25 milhões de quilômetros de novas estradas pavimentadas até meados do século e 90% das construções rodoviárias localizadas em países em desenvolvimento—ricos em biodiversidade e ecossistemas críticos—a relação desses fatos é preocupante.

Este cenário reflete a constante perda global de florestas tropicais, que persiste a despeito de esforços para conter o ritmo de destruição. Mesmo com a queda no desmatamento em países como Colômbia e Brasil, um território equivalente ao tamanho da Suíça foi despojado de suas florestas virgens no ano anterior. Preservar as florestas tropicais é vital não apenas para a diversidade biológica, mas também para atender aos objetivos do Acordo de Paris e à meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C, bem como para o cumprimento do quadro de Kunming-Montreal sobre biodiversidade.


Fonte: https://www.theguardian.com/environment/2024/apr/13/ghost-roads-pave-way-for-deforestation-rainforest-asia-pacific-aoe

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