O Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) divulgou dados essenciais para endereçar um ponto crítico no desenvolvimento sustentável da Amazônia Legal: a universalização do acesso à energia elétrica na região. A nota técnica intitulada “Análise dos recursos disponíveis e necessários para universalizar o acesso à energia elétrica na Amazônia Legal” apresenta uma faixa de investimento de R$ 7,2 a R$ 38 bilhões para o projeto de levar energia elétrica à população ainda às escuras, aproximadamente um milhão de pessoas.
O foco desse investimento seria implantar cerca de 226 mil unidades consumidoras, que incluem residências, escolas e centros comunitários, munidas exclusivamente de energia solar, um marco planejado até 2028 no âmbito do Programa Luz para Todos (LpT). André Luis Ferreira, diretor-executivo do IEMA, destaca a abordagem estadual que privilegia fontes renováveis como estratégia coerente à meta de sustentabilidade, especialmente em regiões de difícil acesso e ecossistemas frágeis.
Segundo o estudo, cada unidade consumidora teria um custo médio estimado entre R$ 47 mil para Sistemas Individuais de Geração de Energia Elétrica com Fonte Intermitente (SIGFI) 45 kWh/mês e R$ 142 mil para SIGFI 180 kWh/mês. Estes valores incorporam fatores como equipamentos, manutenção e serviços pós-vida útil. Um consumo de 45 kWh/mês enfatiza a prioridade atual em suprir necessidades elementares como iluminação, refrigeração e comunicação, enquanto um consumo de 180 kWh/mês viabilizaria atividades produtivas em escala familiar.
Refletindo sobre os subsídios do governo, Fabio Galdino, pesquisador envolvido no projeto do IEMA, aponta que a tendência em prover o mínimo indispensável de energia vem ao encontro das reais necessidades das famílias na região norte, ainda que seja quase quatro vezes menor do que o consumo médio residencial. Uma implementação nessa escala demandaria de 3,7 a 15,7 milhões de itens entre módulos fotovoltaicos e baterias. Em particular, as baterias de chumbo-ácido, apesar de serem menos eficientes, representam uma opção de menor custo em relação às de íon-lítio, cuja adoção poderia elevar o orçamento em cerca de R$ 13 bilhões, um acréscimo significativo.
A financiamento público tem sido um pilar central para a execução desse objetivo. A Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) é um dos mecanismos criados para subsidiar tais iniciativas, contribuindo com 90% dos recursos, enquanto as distribuidoras de energia complementam os 10% restantes. Desde 2020, já foram destinados mais de R$ 600 milhões para instalar 14.191 sistemas fotovoltaicos, com as baterias correspondentes, totalizando um custo médio de R$ 45 mil por instalação.
A discussão amplia-se para onde alocar estrategicamente os recursos limitados da CDE. Vinícius Oliveira da Silva, coautor do estudo, recomenda que seja feita uma reavaliação dos subsídios atribuídos a fontes fósseis poluentes e ineficientes, considerando um redirecionamento para o desenvolvimento de fontes alternativas. Destaca-se o potencial da universalização como um incentivo ao crescimento socioeconômico local e ao aprimoramento sustentável de cadeias produtivas e de serviços na região.