A busca por soluções sustentáveis que possam atuar no combate às alterações climáticas tem impulsionado inúmeros projetos inovadores ao redor do mundo. Entre estes, destaca-se uma iniciativa nos mares das Filipinas, onde uma plataforma flutuante foi desenvolvida para cultivar algas marinhas, conhecidas como kelp, de uma forma revolucionária. Essa fazenda de algas trabalha com um método que aprofunda um grande anel flexível, semeado de kelp, nas águas ricas em nutrientes durante a noite, promovendo um crescimento acelerado do vegetal.
Uma análise detalhada deste projeto revela que o deslocamento cíclico em profundidade – trazendo as algas para a superfície de dia para absorverem luz solar e dióxido de carbono, e rebaixando-as durante a noite para expô-las a águas mais frias e nutritivas – possibilita que o kelp cresça três vezes mais rápido do que se cultivado em águas rasas, como é usualmente feito. Esta inovação não só possibilita um aumento na produção de alimentos, fertilizantes e combustíveis derivados do kelp, mas também se apresenta como um poderoso método de sequestro de carbono, essencial para mitigar as emissões de gases do efeito estufa.
A abordagem da Climate Foundation, a organização por trás do projeto, é apoiada por modelos computacionais e por testes em pequena escala conduzidos pela Woods Hole Oceanographic Institution. Os testes de campo iniciados em 2019 comprovaram a eficácia do modelo preditivo, e agora, com o planejamento de escalar a operação para uma plataforma de 10.000 metros quadrados, o projeto parece estar caminhando rumo à sustentabilidade econômica.
O fundador e diretor executivo, Brian von Herzen, reflete sobre a evolução da ideia, que inicialmente previa bombear água rica em nutrientes das profundezas para irrigar as culturas de kelp na superfície. No entanto, mover os cultivos verticalmente demonstrou ser uma solução mais elegante e eficaz. A operação remota das plataformas é possível graças à tecnologia Wi-Fi e uma rede celular que controla os motores que movimentam o anel com a alga.
Esse empreendimento ambicioso não só aponta para uma solução baseada na natureza no combate às mudanças climáticas, como também visa reanimar economias locais e regenerar ecossistemas marinhos. A iniciativa rendeu à Climate Foundation um prêmio de reconhecimento no valor de US$ 1 milhão pela competição XPrize em remoção de carbono.
Além da colheita direta do kelp, uma parte significativa do vegetal cultivado se desprende das plataformas e afunda mais de mil metros no leito marinho, onde o carbono contido nele fica praticamente confinado por séculos devido à baixa presença de oxigênio, ajudando significativamente no sequestro de carbono. Mesmo com sucesso na produção de aditivos agrícolas a partir do kelp colhido, a questão do sequestro efetivo de carbono ainda é um ponto em debate. Enquanto alguns defendem o cultivo de kelp como uma solução potente, outros sugerem que a melhor contribuição para a miticação das mudanças climáticas virá do uso do kelp em produtos que evitem que o carbono retorne à atmosfera, como combustíveis e materiais de construção.
Apesar dos desafios, von Herzen está otimista com o futuro. Este ano será crucial para testar tanto a viabilidade tecnológica quanto econômica do projeto. Von Herzen argumenta que a energia solar terrestre já é a mais barata e que a energia solar marítima tem o potencial de ser ainda mais acessível, o que tornaria a operação destas fazendas de kelp economicamente viável. Com a projeção de criar um novo tipo de negócio em alto-mar, a Climate Foundation está projetando uma abordagem que viabiliza não só a segurança alimentar mas também o combate aos impactos das mudanças climáticas.
Fonte: https://spectrum.ieee.org/amp/kelp-farm-carbon-2666464089