Inovações em bioeconomia transformam resíduos em soluções sustentáveis

Num planeta cada vez mais preocupado com sustentabilidade, a bioeconomia se destaca por reinventar produtos e processos em prol da saúde ambiental. Sobretudo nas áreas que historicamente contribuem significativamente para o impacto ambiental, como a indústria da construção e a moda, percebe-se um movimento ascendente de inovação e aproveitamento de materiais considerados resíduos.

Na França, uma iniciativa singular transforma roupas e tecidos usados em tijolos resistentes ao fogo e à umidade. A empresa, batizada de Fabrik, utiliza esse insumo em larga escala, produzindo milhares de unidades que ainda possuem propriedades de isolamento térmico e acústico. Diante dos números impactantes de peças de vestuário produzidas e descartadas anualmente, essa abordagem de reciclagem surgiu não só como alternativa aos métodos convencionais de produção de tijolos mas também como um símbolo de mudança no setor têxtil, que busca opções além do algodão e fibras sintéticas.

Com a realidade do impacto têxtil sobre os recursos hídricos e uso de terra, destaca-se o trabalho da brasileira Thamires Pontes, que inovou ao criar uma fibra têxtil sustentável a partir de algas marinhas, um recurso de rápida reprodução. O reconhecimento de sua inovação veio na forma do prêmio Global Change Award 2023, que a estabelece como pioneira no campo da moda sustentável.

Além dos tecidos, mesmo materiais como o couro animal encontram alternativas inusitadas. Em Portugal, a partir de cascas de frutas, são criados acessórios que em nada lembram sua origem orgânica. No México, resíduos de cactos originam o chamado couro verde, uma alternativa ecológica que acompanha outras inovações utilizando matérias-primas como cascas de maçã e folhas de abacaxi.

Nesse contexto, cientistas da Universidade Federal do Pará exploraram a palmeira murumuru, comum na região amazônica, e a partir de suas cascas desenvolveram um aditivo para o cimento que o torna mais resistente e durável. Essa aplicação não só valoriza um subproduto, normalmente descartado, como também promove avanços na construção civil.

Mas a inovação vai além do aproveitamento de recursos vegetais, alcançando até os descartes mais poluentes. Um estudo apontou as bitucas de cigarro como o resíduo prevalente em praias e cursos de água. Agora, graças a uma tecnologia desenvolvida na Austrália, essas bitucas podem ser integradas à fabricação de tijolos mais leves e com melhor isolamento térmico, reduzindo também a energia necessária para produzi-los.

Este conjunto de alternativas reafirma princípios basilares da bioeconomia: não desperdiçar e transformar o que seria descartado em novas soluções para uma vida mais sustentável. Tais avanços, embora possam parecer pequenos, são os passos necessários para a reinvenção consciente do mundo em que vivemos e a qualidade de vida futura.


Fonte: https://www.atribuna.com.br/variedades/domingo-mais/bioeconomia-reiventa-o-mundo

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