A dinâmica industrial brasileira tem sido foco de intensos debates em razão da identificada deindustrialização precoce, fenômeno caracterizado pela redução do setor manufatureiro em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) e ao emprego total. Estudos evidenciam que desde os anos 80, uma combinação de políticas econômicas e variações cambiais induziu a uma reprimarização da pauta exportadora brasileira, marcando uma reversão para uma especialização internacional baseada em bens de intensiva exploração de recursos naturais, a chamada ‘doença holandesa’. Esta situação adquire proporções preocupantes quando compreendemos que o crescimento industrial está intrinsecamente ligado à capacidade de inovação tecnológica e ao aumento da produtividade, elementos fundamentais para um crescimento econômico duradouro.
Confrontado com esse cenário, o papel das políticas industriais toma a dianteira como essencial para estimular o setor e impulsionar a reindustrialização. A literatura econômica e as iniciativas mais recentes em países desenvolvidos, como Estados Unidos e os membros da União Europeia, apresentam um planejamento industrial que transcende a simples competição por custo. Eles englobam mudanças tecnológicas e socioeconômicas como a crise climática, com ênfase nas transições digital e energética baseadas em sustentabilidade e inovação.
A aplicação dessas políticas no Brasil, contudo, precisa ser cuidadosamente adaptada à sua realidade econômica e aos recursos potenciais existentes. O país exige políticas que equilibrem as condições de competição enquanto abordam as transformações tecnológicas e sociopolíticas atuais. Assim, uma agenda de política industrial orientada por missões, em consonância com as análises correntes, surge como uma ferramenta para reconstruir a importância da industria brasileira na economia, reorientando-a como uma força propulsora para o crescimento econômico.
Os episódios da pandemia do COVID-19, a guerra na Ucrânia e a conscientização sobre a crise climática levantaram novos desafios para a formulação de uma agenda de política industrial. A fragilidade das cadeias de valor globais foi posta à prova, sublinhando a necessidade de reduzir a dependência externa e investir na produção doméstica. As oportunidades trazidas pela Economia Circular e Sustentabilidade Inclusiva e a importância das transformações digital e energética, sob a égide da descarbonização da economia, também foram reconhecidas.
Portanto, preconiza-se a criação de uma agenda de política industrial norteada por missões, alinhada às análises conduzidas até o momento, como meio de restaurar a importância da indústria brasileira em sua economia, representando uma força motriz para o crescimento econômico.
Fonte: Industrial Policies for Reverting the Premature Deindustrialization of the Brazilian Economy: an agenda for policy discussion. Industrial Policies for Reverting the Premature Deindustrialization of the Brazilian Economy: an agenda for policy discussion