Resíduos agroindustriais ampliam funcionalidade de tecidos com proteção UV e antioxidantes

A incorporação de óleos funcionais à indústria têxtil, a partir do reaproveitamento de resíduos agroindustriais, foi analisada em um estudo recente que investigou métodos sustentáveis para extrair biocompostos com propriedades antioxidantes e protetoras contra raios UV. A pesquisa aplicou pré-tratamentos enzimáticos à extração em meio aquoso de resíduos como ouriços de castanha, caules de tabaco, restos de poda de videiras e bagaço de cerveja, demonstrando sua viabilidade na funcionalização de tecidos de algodão.

A extração convencional de óleos naturais envolve solventes orgânicos, o que implica riscos ambientais e à saúde. Como alternativa, o estudo propôs o uso de enzimas como celulase, xilananase e pectinase, com destaque para os ouriços de castanha (CH). Quando tratados com celulase e xilanase, esses resíduos alcançaram o maior rendimento de óleo, com 149 mg/mL, e um conteúdo de fenólicos de 1968 mg GAE/g de biomassa, superior aos demais materiais testados.

Têxteis tratados com os óleos extraídos dos resíduos de CH e TPS obtiveram os melhores resultados em atividade antioxidante (superior a 60% nos óleos e 40% nos tecidos) e fator de proteção ultravioleta (UPF), com valores de até 30 — classificados como “boa proteção” segundo norma australiana. A aplicação foi realizada por meio da técnica pad-dry-cure, comum na indústria, utilizando formulações à base de água contendo o óleo e amido catiônico.

Propriedades hidrofóbicas também foram observadas. Os tecidos com o óleo de CH extraído sob ação enzimática mantiveram superhidrofobicidade mesmo após lavagens, com ângulo de contato com água de 143°. No entanto, essa resistência à lavagem não foi replicada com os demais óleos, o que indica a necessidade de aprimoramento na fixação, como o uso de encapsulamento ou reticulantes naturais.

O efeito das enzimas variou com o tipo de resíduo, proporção de biomassa e granulometria. De modo geral, partículas menores (< 10 mm) contribuíram para melhor rendimento de extração, com exceção das podas de videira. Fatores como a saturação do meio aos 20% de biomassa e o empacotamento de partículas muito finas também foram considerados na interpretação dos resultados.

Em todos os resíduos, o tratamento com enzimas aumentou significativamente a quantidade de compostos fenólicos. No caso do bagaço de cerveja, os métodos enzimáticos alcançaram até três vezes mais fenólicos (92,9 mg GAE/g) do que os métodos tradicionais com solventes como hexano ou CO₂ supercrítico, demonstrando o potencial do método enzimático aquoso.

Como desdobramento futuro, os autores sugerem testar o uso da pectinase em resíduos nos quais ainda não foi aplicada, como os ouriços de castanha e os restos de poda de videira, além de explorar estratégias para aumentar a permanência das funcionalidades após lavagens. O método apresentado é compatível com regulações como REACH e pode ser facilmente integrado a práticas industriais já existentes.

Este estudo promove simultaneamente o reaproveitamento de resíduos agroindustriais, a substituição de produtos químicos sintéticos e a adição de valor funcional ao setor têxtil. Ao combinar extração verde, biotecnologia e funcionalização têxtil, aponta caminhos concretos para modelos circulares e simbioses industriais mais amplas na economia europeia — com potencial replicação global.

Fonte: Bioeconomy in Textile Industry: Industrial Residues Valorization Toward Textile Functionalization

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