Fórum Econômico Mundial destaca a necessidade de reformular o sistema agroalimentar global

A narrativa global sobre práticas de consumo alimentar sinaliza uma convergência inédita entre organismos de saúde, cientistas nutricionais, defensores do consumidor e, recentemente, o mecanismo empresarial mais influente do mundo, o Fórum Econômico Mundial. Em sua última publicação, em_associação com a Accenture, apontaram os produtos ultraprocessados como um dos principais agentes das doenças não transmissíveis, as quais lideram como causa de morte global.

Apesar dos avanços na longevidade humana, marcada pelo salto de expectativa de vida de 61 para 73 anos nas últimas décadas, a proporção de afecções como problemas cardíacos, diabetes tipo 2 e diversos cânceres duplicou, principalmente em países de renda baixa e média. Tais condições de saúde têm sua origem relacionada ao consumo massivo de alimentos altamente processados. Este panorama reflete mais severamente nas nações em desenvolvimento, evidenciando que 62% das pessoas com obesidade estão localizadas nesses territórios. A inacessibilidade a dietas saudáveis afeta 42% da população mundial, cifra que ascende a 90% em estados mais pobres.

O que se denomina de ‘fome oculta’ afeta mais de dois bilhões de indivíduos, uma condição onde a obesidade coexiste com deficiências nutricionais significativas em componentes como ferro, zinco, iodo e vitamina A. O consumo de produtos ultraprocessados está incrementado, atrelado a incidências de depressão, segundo o estudo do Fórum. A pesquisa enfatiza os custos sociais e ambientais gerados pelo atual sistema agroalimentar, estimando o valor do consumo alimentar global em US$ 9 trilhões anuais, enquanto os custos ocultos são avaliados em aproximadamente US$ 19 trilhões, com US$ 11 trilhões referentes à saúde humana.

A ciência nutricional sofreu uma revolução no século 21, protagonizada por instituições como o Núcleo de Pesquisa em Nutrição e Saúde (NUPENS) da USP. A ênfase deixou de ser apenas os nutrientes, mas mudou para uma avaliação que considera o grau de processamento industrial dos alimentos. O reporte invoca uma conexão entre a biodiversidade microbiológica do solo e a do organismo humano, que tende a ser comprometida pelo avanço dos ultraprocessados.

Uma recomendação chave do Fórum preconiza não apenas a diversidade alimentar e a valorização dos produtos frescos, mas também o reconhecimento da riqueza imbuída nas tradições culinárias locais. Propõe-se uma transição radical do sistema agroalimentar, substituindo a cadeia de produtos padronizados e anônimos por um modelo que realce produtos nutritivos e diversificados, emanados de práticas agropecuárias sustentáveis.

Neste contexto, a indústria é instada a abolir ingredientes nocivos, fabricando alimentos tão saudáveis quanto os naturais, impulsionando mercados para produtos da sociobiodiversidade que demandam microprocessamento só para estender sua durabilidade. Os subsídios agrícolas, alinhados atualmente com culturas monocultoras, precisariam reorientar-se para apoiar produtores que proporcionem essa diversidade nutricional às comunidades. O Fórum sugere que produtos não processados sejam estabilizados e novos sejam criados, alinhados à saúde e sustentabilidade.

A análise emitida pelo Fórum Econômico Mundial destaca que o modelo alimentar atual, especialmente em território brasileiro, está ultrapassado e requer reflexão sobre se as lideranças e associações empresariais optarão pela persistência no modelo do século 20 ou se evoluirão para fomentar um sistema agroalimentar justo e revitalizador, que diminua drasticamente o consumo de ultraprocessados e celebre a diversidade culinária das diversas regiões.


Fonte: https://ricardoabramovay.com/2023/12/ultraprocessados-na-mira-de-davoz/

Compartilhar