Pesquisas recentes publicadas nas revistas Science e Nature apontam um lento ritmo de adaptação das florestas tropicais diante dos efeitos da crise climática global. Os estudos alertam para significativas mudanças na composição dessas florestas, que têm profundas implicações sobre a biodiversidade e a capacidade de captura de carbono desses ecossistemas.
Segundo Jesús Aguirre-Gutiérrez, pesquisador da Universidade de Oxford e primeiro autor dos estudos, as florestas tropicais das Américas já apresentam sinais de mudanças, com o aumento da presença de espécies decíduas, que perdem folhas em períodos secos. Esses vegetais possuem vantagens adaptativas às condições atuais de menos chuvas e temperaturas mais altas, embora ainda sejam insuficientes para enfrentar a velocidade das mudanças climáticas.
Os dados obtidos ao longo de décadas de monitoramento ecológico revelam que espécies arbóreas de grande porte e madeira densa, fundamentais para a captura de carbono, estão gradativamente sendo substituídas por árvores menores, com menor capacidade de armazenamento desse elemento.
Isso cria um cenário preocupante de perda acelerada das funções ecológicas essenciais dessas florestas. Carlos Alfredo Joly, pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coautor dos estudos, alerta que árvores emblemáticas como jatobás, ipês e jequitibás, além de copaíbas e castanheiras-da-amazônia, já enfrentam dificuldades expressivas na regeneração e sobrevivência.
Essas mudanças estruturais podem levar à redução da diversidade biológica, tornando as florestas mais vulneráveis a eventos ambientais extremos. Áreas isoladas, com baixa conectividade, têm a capacidade de regeneração natural ainda mais comprometida, ressaltando a importância da proteção e manejo adequados dessas regiões.
Como alternativa para mitigar esses impactos, Aguirre-Gutiérrez propõe o conceito de regeneração natural assistida, onde ocorre o plantio intencional de espécies adaptadas às atuais condições climáticas, buscando aumentar o sucesso de restauração ecológica.
Apesar da importância crescente de tecnologia avançada como imagens satelitais para o monitoramento ambiental em larga escala, os pesquisadores enfatizam que o investimento contínuo em trabalho de campo é fundamental para validar os modelos propostos e entender melhor a realidade ecológica das florestas tropicais.
Os estudos reforçam também que medidas concretas e eficientes precisam de apoio urgente através de políticas públicas de conservação que não só protejam as áreas remanescentes, mas que também incentivem iniciativas inovadoras para uma resposta mais ágil e eficaz das florestas tropicais diante das rápidas mudanças climáticas.
Fonte: Canopy functional trait variation across Earth’s tropical forests