Um estudo aplicado à economia da Letônia analisou os efeitos de diferentes caminhos para promover a transição energética via aumento da produção de energia de base florestal. Utilizando um modelo de equilíbrio geral aplicado (AGE), os pesquisadores testaram dois cenários: o primeiro baseado em política fiscal (imposição de impostos e concessão de subsídios) e o segundo incorporando melhorias tecnológicas na produção de energia a partir de biomassa.
No Cenário I, os autores simularam uma substituição da atual taxa de 17% sobre todos os tipos de energia por uma taxa de 25% sobre energia não-bio e um subsídio de 10% para energia de base biológica. O resultado foi um aumento expressivo de 57,8% na produção de bioenergia, e uma redução de 6% na produção baseada em fontes fósseis. Isso também gerou queda de 1,7% nas emissões totais de CO₂, considerando a bioenergia como climaticamente neutra.
Além dos benefícios ambientais, o cenário indicou um ganho de bem-estar estimado em 63,5 milhões de euros. Este ganho é atribuído à chamada dupla dividenda: a redução das distorções econômicas já existentes com o novo arranjo fiscal, e os ganhos ambientais associados à substituição de energia não renovável por biomassa derivada de madeira.
Já o Cenário II simulou um avanço tecnológico de 25% no setor de bioenergia, refletindo o impacto potencial de investimentos em inovação oriundos de recursos da União Europeia. O preço da bioenergia caiu quase 30%, o que também resultou em um aumento de 57,9% na sua produção. No entanto, como o preço da energia fóssil se manteve relativamente estável, a substituição por bioenergia foi menor, levando a uma redução mais modesta de 0,3% nas emissões de CO₂.
O ganho de bem-estar em ambos os cenários foi semelhante, o que destaca o apelo dos investimentos em inovação tecnológica. No entanto, os autores alertam que essa simulação considera o progresso técnico como “gratuito”—um pressuposto irreal, uma vez que os custos reais e as estratégias de implementação permanecem fora do escopo do modelo.
Apesar da performance positiva da bioenergia nos dois cenários, o estudo mostra que nenhuma das abordagens é suficiente por si só para atingir a meta da Letônia de gerar 50% de sua energia a partir de fontes renováveis até 2030. Em 2017, essa taxa era de 39%. A dependência quase exclusiva da biomassa florestal também evidencia a necessidade de diversificar a matriz energética, incluindo fontes como energia eólica e solar, ainda marginalizadas no país.
Os autores ressaltam ainda algumas limitações do estudo: a escassez de dados detalhados de uso e produção de energia forçou suposições no modelo; fontes alternativas como vento e sol foram pouco representadas; e o nível de agregação do modelo dificulta distinções entre tipos de uso energético, como eletricidade e calor.
Apesar dessas limitações, a pesquisa traz elementos concretos para embasar a formulação de políticas públicas que promovam não apenas a sustentabilidade ambiental, mas também a resiliência econômica da Letônia. Não se trata apenas de substituir combustíveis fósseis, mas de desenhar um sistema energético eficiente e diversificado, ajustando incentivos e balizando investimentos em áreas promissoras como tecnologia limpa e coleta de dados energéticos mais precisos.
Fonte: The Importance of Wooden Biomass in the Transition to a Bioeconomy in Latvia