Leipzig, uma das cidades de crescimento mais dinâmico da Alemanha, desponta como caso de estudo para explorar os caminhos de uma transição urbana rumo à bioeconomia sustentável. Um estudo recém-publicado analisou o potencial da cidade e da região mineradora da Alemanha Central para integrar cadeias de valor baseadas em recursos biológicos, com implicações que vão além das fronteiras urbanas tradicionais.
Os resultados revelam que limitar a bioeconomia ao espaço urbano é insuficiente. Em vez disso, os autores propõem a criação de um sistema urbano-rural, onde cidades como Leipzig funcionem como centros de demanda e conhecimento, e as áreas rurais forneçam biomassa, produtos e processos de base biológica. Dez dos quinze especialistas entrevistados reconhecem alto potencial da bioeconomia para impulsionar a transformação estrutural da região mineradora, com destaque para setores como agricultura, silvicultura, química e alimentos.
Os especialistas apontam prioridades específicas para Leipzig, como reciclagem, recuperação de nutrientes, uso de materiais renováveis na construção civil e expansão da agricultura urbana. Embora reconheçam um campo fértil para inovação, alertam que a infraestrutura urbana atual é limitada em termos de biomassa, dependente da integração com áreas vizinhas para viabilizar modelos sustentáveis de produção e consumo.
Com base nisso, a pesquisa indica que Leipzig precisa adaptar seu mix de políticas públicas para colocar em prática sua visão bioeconômica. Isso inclui mudanças organizacionais e institucionais, redução da burocracia, novos modelos de financiamento e instrumentos para promover
governança transformadora. O estudo recomenda articular instrumentos que promovam a inovação, comercialização, mudanças de comportamento dos consumidores e a chamada exnovação – substituição de práticas insustentáveis.
Entretanto, os pesquisadores constataram que o atual quadro político-administrativo da cidade carece de articulação e clareza estratégica. A ausência de uma estratégia regional de bioeconomia em nível estadual (Saxônia) ou municipal é vista como obstáculo. Boa parte dos entrevistados desconhece iniciativas locais relevantes, como o grupo de trabalho sobre bioeconomia urbana, criado em 2020.
Para além das estruturas públicas, os cientistas destacam a importância de envolver a sociedade civil e o sistema educacional, promovendo desde cedo uma cultura de sustentabilidade e inovação. Outro ponto crítico identificado é a falta de pequenas e médias empresas no ecossistema local, dificultando a consolidação de cadeias de valor regionais baseadas em recursos biológicos.
No quadro de oportunidades, o estudo destaca a população de Leipzig como ativo fundamental. A receptividade a mudanças, somada ao potencial de sinergia com instituições de pesquisa e inovação, configura um ambiente propício à experimentação de modelos bioeconômicos. O risco, segundo alguns especialistas, vem do aumento da dependência de importações de biomassa, com potenciais impactos sobre a biodiversidade e segurança alimentar fora da Europa.
Em termos práticos, os autores delineiam um conjunto inicial de opções de ação que, embora gerais, poderiam balizar a construção de uma agenda de transição. Essa agenda precisaria definir responsabilidades, marcos temporais, recursos e indicadores de sucesso. O estudo chama atenção para a complexidade dos processos de mudança em ambientes urbanos, particularmente devido à multiplicidade de setores envolvidos e à governança multinível necessária.
A pesquisa conclui que, apesar dos desafios institucionais e financeiros, Leipzig possui condições para ser o núcleo articulador de uma bioeconomia urbano-rural, com capacidades para impulsionar mudanças sistêmicas em toda a região sarada pela indústria do carvão. A experiência pode servir de modelo para outras cidades europeias em contextos similares, especialmente aquelas que enfrentam a necessidade urgente de diversificação econômica e transição ecológica.