Pesquisadores brasileiros registraram alta variabilidade genética em genótipos de Endopleura uchi, o uxizeiro, espécie amazônica de interesse nutricional e comercial, apontando potencial para programas de melhoramento genético e estratégias de conservação. O estudo analisou frutos e pirênios de 13 genótipos coletados em Castanhal, no Pará, e revelou diferenças significativas nas características físicas, como massa fresca, diâmetro, volume e rendimento de polpa.
Apesar do interesse comercial crescente, a produção atual do uxizeiro baseia-se principalmente no extrativismo por comunidades tradicionais, o que ameaça a diversidade genética da espécie. Segundo os autores, a retirada indiscriminada de indivíduos da natureza sem manejo adequado pode levar à erosão genética, prejudicando futuras atividades de melhoramento e a coleta sustentável de frutos.
Utilizando o modelo estatístico REML/BLUP no software Selegen, os cientistas estimaram coeficientes de herdabilidade de 0,16 a 0,44, com variação ambiental superior à genética. Essas taxas são consideradas moderadas, indicando que características como rendimento de polpa poderão ser transmitidas às gerações futuras, embora a influência ambiental ainda seja determinante. A acurácia da seleção foi alta (≥99%), sugerindo confiabilidade nas previsões genéticas realizadas.
O estudo também estabeleceu fortes correlações genéticas entre os atributos físicos. Um destaque foi a correlação negativa acentuada (-0,80) entre diâmetro do fruto e rendimento de polpa, o que aponta para a necessidade de priorizar genótipos com pirênios menores e melhor proporção entre massa de polpa e volume total do fruto. Isso tem implicações práticas para o processamento industrial da espécie, cuja polpa é usada em produtos como sucos e cremes.
Análises multivariadas agruparam os genótipos em seis grupos distintos, revelando riqueza genética significativa. Com base no índice de seleção, os genótipos G05, G13, G12, G08 e G11 foram identificados como mais promissores por associarem elevados rendimentos de polpa a outras características físicas favoráveis. Esses genótipos são indicados para programas de melhoramento e estabelecimento de pomares regionais, além de representarem material genético relevante para conservação em bancos de germoplasma.
Por outro lado, genótipos como o G09, que apresentaram frutos maiores e com maior massa fresca, apresentaram menor rendimento de polpa e não foram considerados ideais para fins agroindustriais, reforçando a necessidade de uma seleção equilibrada entre atributos físicos do fruto e volume de polpa consumível.
O trabalho também evidencia o papel do ambiente na expressão fenotípica da espécie. Solos ácidos e de baixa fertilidade, alta pluviosidade e variações microclimáticas podem afetar significativamente o desenvolvimento dos frutos e, portanto, devem ser considerados em estratégias de seleção. Integração com variáveis ambientais deve ser prioridade em futuros estudos de seleção assistida, para garantir genótipos adaptados a diferentes condições agroecológicas.
Os resultados reforçam a necessidade de estruturar políticas públicas e estratégias locais que incentivem a domesticação e manejo racional do uxizeiro. Além de ampliar a oferta de matéria-prima para agroindústrias amazônicas, isso permitirá o fortalecimento de cadeias produtivas sustentáveis e a geração de renda para comunidades envolvidas na coleta e cultivo da espécie.
Em suma, o trabalho fortalece o argumento de que o Endopleura uchi pode integrar a bioeconomia amazônica não apenas como recurso extrativo, mas como espécie cultivável com alto potencial de rendimento. Para isso, o passo inicial está na identificação e preservação dos genótipos mais produtivos, como apontado na pesquisa, tornando possível sua integração a sistemas agrícolas sustentáveis e resilientes.