Especialistas climáticos destacam a urgência nas ações globais para enfrentar o aumento das emissões de carbono, uma realidade ainda distante das metas estabelecidas pelo Acordo de Paris. Durante a conferência “Caminhos para o Brasil pós-COP29“, promovida pelo Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais, pesquisadores alertaram que as metas climáticas estão atrasadas e que o atual ritmo do aquecimento global pode resultar em um aumento de até 4,3°C na temperatura média global até o final do século.
Nestas discussões, destacou-se que embora o Acordo de Paris tenha como objetivo limitar o aquecimento a menos de 2°C, com esforços para não ultrapassar 1,5°C, as ações atuais e compromissos dos países revelam-se insuficientes, colocando em xeque a viabilidade dessas metas. A recente COP29 em Baku, Azerbaijão, simbolizou mais um passo em um processo muitas vezes marcado pela lentidão.
A expectativa agora se volta para a COP30, que será realizada em Belém, no coração da Amazônia, um palco estratégico e simbólico para o Brasil. Calcula-se que o evento reunirá mais de 40 mil visitantes, entre especialistas, militantes climáticos e observadores, trazendo discussões essenciais sobre a preservação das florestas, financiamento climático e tecnologias de energia renovável.
Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, enfatiza que a prioridade número um deve ser a redução das emissões, destacando a queima de combustíveis fósseis como a principal responsável pela liberação das alarmantes 57,1 gigatoneladas de CO2 equivalente na atmosfera apenas em 2023. Artaxo sinaliza que, sem mudanças urgentes e significativas, a temperatura no Brasil pode aumentar entre 4°C e 4,5°C, impactando severamente os recursos hídricos.
A pesquisadora Thelma Krug, ex-vice-presidente do IPCC, mencionou a demora incessante em decisões importantes na esfera das Nações Unidas. Ela expressou receio sobre a capacidade coletiva de avançar rapidamente no sentido de evitar os piores cenários climáticos, relevando, por exemplo, uma espera de 10 anos para regulamentar o pagamento por resultados de redução de emissões florestais.
Ao se discutir os direcionamentos do Brasil pós-COP30, Karen Silverwood-Cope destacou que enquanto o Brasil conseguiu atingir metas de redução de emissões relacionadas ao desmatamento, seu futuro desafio residirá na transição das emissões oriundas do uso da terra para aquelas associadas ao consumo energético. A pergunta que persiste é se o Brasil está se preparando adequadamente para este novo perfil emissivo.
Os especialistas concordam que a COP30 em Belém representa um marco para o Brasil não apenas na tomada de consciência de sua responsabilidade climática interna, mas também na oportunidade de liderar o esforço global por governança efetiva. A ressalva é que, sem um esforço coordenado e abrangente, as distinções de temperatura excederão os níveis seguros e projetados pelo Acordo de Paris, colocando em risco a sustentabilidade social e econômica global.