COP28 e a Contínua Luta pela Integridade no Mercado de Créditos de Carbono

Em meio ao complexo cenário de práticas de sustentabilidade e responsabilidade climática global, a COP28 se tornou palco de uma ofensiva estratégica para enfrentar a crise que assola o mercado voluntário de créditos de carbono. Ao longo de 2023, este mercado enfrentou acusações graves que abalaram sua integridade, incluindo fraudes e violações dos direitos de comunidades vulneráveis – particularmente em projetos REDD+ no Brasil, que visam evitar o desmatamento.

Com o intuito de reverter essa imagem, o setor anunciou na COP28 uma série de iniciativas com o apoio da presidência da conferência. As medidas incluem uma forte colaboração entre seis padrões de certificação de créditos de carbono para aumentar a transparência e criar indicadores padronizados, medindo não apenas a redução de emissões, mas também os impactos socioeconômicos nos entornos dos projetos. Alinhando-se às diretrizes do Integrity Council for Voluntary Carbon Markets, as certificadoras buscam resgatar a confiabilidade desses ativos ambientais.

O presidente da associação de soluções baseadas na natureza no Brasil, Janaína Dallan, reflete a ansiedade do setor ao mencionar que, apesar de contratos assinados, muitas empresas optaram pela cautela, aguardando uma melhor avaliação do mercado devido aos recentes acontecimentos. Este recuo é refletido na queda acentuada de aposentadorias de créditos de carbono, que demonstra uma diminuição de 25% em relação ao uso desses ativos para compensações de emissões.

Esta retração ocorre em um momento em que o mercado de créditos de carbono é peça-chave tanto para a descarbonização da economia quanto para a conservação da biodiversidade, especialmente em países em desenvolvimento. A indústria clama por uma frente unida e recebeu o ressonante apoio de John Kerry e grandes corporações financeiras e comerciais, todos reconhecendo o mercado de carbono como um dos maiores potenciais econômicos de nossa era.

De olho na credibilidade e nos próximos passos, Andrew Howard, da Verra, destacou mudanças nas metodologias de certificação, buscando maior rigor no estabelecimento das linhas de base contra as quais os projetos serão medidos. A implementação das novas diretrizes ocorrerá gradualmente, como um esforço para depurar o sistema das críticas e retomar o ritmo de geração de créditos que vivenciou um boom em 2021.

No Brasil, a atenção se volta para o tratamento do desmatamento evitado e o reconhecimento desse esforço no recém-aprovado projeto de lei para o mercado regulado de carbono brasileiro. Uma decisão pendente sobre as metodologias a serem adotadas pelo cap and trade nacional tem fortes implicações para o futuro do mercado voluntário e a aceitação dos créditos de REDD+.

Contudo, um argumento central articulado pelas vozes do mercado voluntário é a necessidade de abraçar múltiplas estratégias para concretizar as ambições de net zero. A diversidade de abordagens – sejam soluções baseadas na natureza ou tecnológicas – é vista como não apenas complementar, mas essencial para lidar efetivamente com a crise climática à medida que o cronograma da transição energética avança globalmente.


Fonte: https://capitalreset.uol.com.br/clima/cop/mercado-de-carbono-faz-ofensiva-na-cop28-para-reverter-crise/

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