Empresas de biotec investem em peixes cultivados para preservar oceanos

Nos últimos anos, o setor de tecnologia alimentar tem vivenciado uma revolução silenciosa com o desenvolvimento e crescimento de startups focadas em peixes cultivados em laboratório. Essa inovação, que segue a linha do cultivo de carne em laboratório, apresenta uma alternativa potencialmente sustentável frente aos desafios contemporâneos de sobrepesca e a crescente demanda por produtos do mar.

A produção de peixe cultivado é um avanço tecnológico que envolve a extração de células de peixes capturados na natureza e seu cultivo em biorreatores, um ambiente especialmente projetado para replicar o crescimento natural dessas células. O meio de cultura, uma solução rica em nutrientes, desempenha um papel crucial ao fornecer açúcares, minerais, aminoácidos e proteínas essenciais para o crescimento celular. Empresas como a alemã Bluu Seafood enfrentaram desafios ao manter as células em suspensão, no entanto, desenvolveram tecnologias inovadoras, como “esferoides”, para resolver tais problemas evitando que as células se aglomerem e garantam o crescimento eficiente.

Os benefícios do peixe cultivado vão além da sustentabilidade. O produto não apresenta ossos, pele, escamas ou cérebro, eliminando o desperdício e garantindo um uso mais eficiente dos recursos. Além disso, o cultivo celular possibilita o crescimento em uma velocidade exponencial, muito mais rápida do que a natureza permite com peixes inteiros. A segurança alimentar é uma vantagem adicional, uma vez que elimina o risco de contaminantes comumente associados a peixes selvagens e de aquicultura, como microplásticos e mercúrio.

Startups como a Bluu Seafood, Wanda Fish de Israel e outras, estão cada vez mais emergindo nesse espaço. Enquanto a Bluu Seafood ampliou suas operações para uma planta-piloto de peixes cultivados em Hamburgo, a Wanda Fish desenvolveu um sashimi de atum azul cultivado, uma iguaria de alto valor que aproveita totalmente o potencial da biotecnologia tanto em sabor quanto em valorização econômica.

Com o aumento da conscientização pública sobre a produção insustentável de alimentos do mar e a pressão de governos para regulamentação difusa, a indústria de alimentos de aquacultura cultivados tem atraído investimentos significativos. Países como Singapura têm pavimentado o caminho para a aceitação e aprovação regulatória, atuando como um farol para os países que buscam alternativas de produção mais sustentáveis.

O apelo dos peixes cultivados é grande, especialmente considerando as limitações atuais de fornecimento de frutos do mar devido à base biológica fixa da pesca selvagem e as restrições geográficas da aquicultura. Os esforços regulatórios, como o projeto Feasts da União Europeia e os investimentos do governo da Nova Zelândia em peixe cultivado, demonstram um compromisso internacional crescente para com a bioeconomia.

Apesar das inovações e do entusiasmo, desafios permanecem, incluindo a oposição de legislações que rejeitam a comercialização de carnes cultivadas, como a decisão da Itália de banir tais produtos. O equilíbrio entre trazer peixes de laboratório para o mercado enquanto mantém os custos competitivos ainda é uma questão pendente, mas promissora à medida que o custo de produção tem potencial para se alinhar ao dos produtos tradicionais.

Projeções indicam que, em breve, produtos de peixes cultivados irão atingir as prateleiras, competindo com os peixes selvagens e de aquicultura por uma fatia do paladar mundial e cumprindo um papel na preservação dos oceanos. Se essa solução inovadora conseguirá conquistar os consumidores e aliviar a pressão sobre os ecossistemas marinhos, só o tempo dirá, mas os primeiros passos já estão bem encaminhados.


Fonte: https://www.labiotech.eu/in-depth/lab-grown-fish/

Compartilhar