Cientistas têm desenvolvido uma técnica inovadora que transforma subprodutos de estações de tratamento de águas residuais em biomateriais com aplicação industrial. Utilizando a substância natural extracellular polymeric substance (EPS), extraída do lodo remanescente dessas estações, revelou-se uma solução promissora para revestir papel, aumentando significativamente a resistência à água do material, até 65%, e a repelência a óleo e gordura.
A pesquisa, publicada na revista Environmental Science and Ecotechnology, demonstra que essa abordagem não apenas melhora substancialmente as propriedades de barreira do papel, mas também proporciona uma superfície mais lisa e menos porosa. Trata-se, portanto, de um avanço significativo frente aos processos biológicos convencionais de atividade de lodo, que embora eficientes na remoção de poluentes, geram grandes quantidades de resíduos e custos significativos nas operações de descarte.
Essa nova vertente de pesquisa está alinhada com o paradigma da biorefinação, que busca converter resíduos em fontes de recursos renováveis. O EPS se destaca pela sua composição única, que inclui polissacarídeos, proteínas e substâncias similares ao ácido húmico, posicionando-o como uma alternativa potencial aos polímeros sintéticos extensivamente usados em setores diversos, de agricultura a construção civil.
A incorporação de EPS ao revestimento de papel resultou em melhorias notáveis, principalmente quando o EPS era derivado de lodo da própria indústria papeleira, apresentando conteúdo proteico mais alto e maior caráter hidrofóbico. Tal descoberta configura uma aplicação revolucionária para o EPS, evidenciando seu valor como aditivo para revestimento de papel e incrementando suas propriedades de resistência à água e gordura.
Este avanço científico é um movimento significativo em direção a uma economia mais sustentável e circular, com uma gestão ambientalmente responsável dos resíduos de águas residuais que gera, simultaneamente, produtos industriais valiosos. A comunidade acadêmica e industrial saúda este desenvolvimento como uma abordagem eficiente, ambientalmente amigável e economicamente viável, que abre novas possibilidades para a valorização de resíduos e para o progresso da bioeconomia.