Em entrevista, a chefe da delegação brasileira compartilha insights sobre o texto final da conferência e o caminho a seguir.
Dubai – No âmbito da COP28, a Ministra Marina Silva, representando o Brasil, concedeu uma entrevista à rádio CBN. Nesta conversa, ela abordou uma série de questões críticas relacionadas à mudança climática e aos esforços globais para combater este desafio.
A Ministra destacou a importância histórica do acordo alcançado na COP28, enfatizando que “levou mais de três décadas desde a Eco 92 para que a comunidade internacional reconhecesse oficialmente a necessidade de uma transição do uso de combustíveis fósseis.” Essa admissão, segundo ela, marca um ponto de virada significativo nas discussões sobre mudanças climáticas.
Ela também ressaltou o papel fundamental da ciência ao longo dos anos, independentemente das questões políticas e econômicas, especialmente na afirmação da necessidade de eliminar os combustíveis fósseis. Silva apontou que “a ciência foi uma força motriz constante, orientando as políticas e decisões tomadas na conferência.”
Durante a entrevista, Silva abordou a complexidade das negociações, mencionando as dificuldades enfrentadas dentro dos blocos como o BASIC (Brasil, África do Sul, Índia e China) e o G77. Ela destacou que, apesar das divergências, foi possível chegar a um consenso, embora os desafios persistam, especialmente em termos de diferentes visões e realidades dos estados nacionais. Um aspecto crucial mencionado pela Ministra foi a questão do financiamento. Ela apontou a falta de recursos financeiros como um grande desafio para ações de adaptação, mitigação e para lidar com perdas e danos. Esta é uma lacuna significativa na realização de compromissos climáticos e um obstáculo para países em desenvolvimento.
A Ministra Silva também falou sobre a realidade dos eventos climáticos extremos, que agora são uma realidade tangível, com impactos significativos, como secas e inundações severas. Ela destacou que estes eventos “não são mais meras possibilidades, mas sim constatações da ciência.”
Quanto ao processo multilateral, ela mencionou que, devido às diferentes visões e realidades dos estados nacionais, foi desafiador chegar a um texto final mais forte e explícito sobre a questão dos combustíveis fósseis. Este é um reflexo da complexidade e das nuances envolvidas no processo de negociação.
Falando sobre o potencial do Brasil, a Ministra destacou o país como um produtor de petróleo com grande potencial de produção de energia limpa. Ela enfatizou a possibilidade do Brasil ter uma matriz energética 100% limpa, uma posição única que equilibra seu papel como produtor de petróleo com compromissos ambientais.
Olhando para o futuro, Silva indicou que a COP29 será crucial, onde o financiamento e os meios de implementação para alcançar os objetivos climáticos serão discutidos. Além disso, a realização da COP30 no Brasil em 2025 foi destacada como um momento significativo para o país no cenário global de mudanças climáticas.
De acordo com a Ministra, o balanço geral da COP28 foi de um avanço, embora repleto de desafios contínuos e obstáculos ainda a serem superados. Ela destacou o marco histórico de finalmente reconhecer a necessidade de uma transição dos combustíveis fósseis, enfatizando o papel essencial da ciência e a importância do consenso alcançado apesar das complexidades das negociações multilaterais. No entanto, Silva também apontou para as lacunas críticas, especialmente em termos de financiamento e recursos necessários para ações de adaptação e mitigação. O progresso foi temperado pela realidade dos desafios persistentes, marcando a COP28 como um ponto de inflexão importante, mas também um lembrete dos esforços contínuos necessários para combater as mudanças climáticas.
Fonte: COP28: Marina Silva defende recursos globais para viabilizar energia limpa, Rádio CBN, 13/12/2023 às 07h34.