O contexto atual do setor elétrico brasileiro coloca em ameaça os planos de descarbonização do país, segundo estudo do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA). O relatório aponta que o uso de termelétricas aumentou 200% nos últimos 20 anos, desafia as metas de diminuição de gases de efeito estufa.
Em comparação com o ano passado, a geração de energia termelétrica viu uma queda significativa. As 72 termelétricas fósseis – gás natural, carvão mineral, óleo combustível e óleo diesel – conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN) geraram 31,1 TWh, marcando uma queda de 67% em relação à geração de 95,7 TWh em 2021. Esta redução é reflexo das condições climáticas favoráveis à geração hidrelétrica e do crescimento de fontes renováveis como eólica e solar.
Contudo, analisando o longo prazo, o uso de termoeletricidade fóssil tem aumentado consistentemente. Na virada do século, essa fonte gerava apenas 30,6 TWh de energia, e em 2020 produziu 91,8 TWh. Este aumento consequente levou a um crescimento de 113% nas emissões de gases de efeito estufa do setor elétrico.
Políticas futuras também trazem um cenário preocupante para a descarbonização, com leis federais já aprovadas que têm o potencial de aumentar a participação de fontes poluidoras no sistema elétrico. Destacam-se a Lei Federal nº 14.182/2021, que prevê a instalação de 8.000 MW em termelétricas a gás em várias regiões do Brasil entre 2026 e 2030, e a Lei Federal 14.299/2022, que prolongou os subsídios e a vida útil de usinas a carvão mineral até 2040.
Em 2022, as usinas a combustíveis fósseis vencedoras do Procedimento Simplificado de Contratação, um leilão criado como medida de emergência em resposta à crise hídrica de 2021, entraram em operação, mesmo com um cenário favorável à geração hidrelétrica. “O contexto atual do setor elétrico apresenta riscos para seus planos de descarbonização rumo a uma matriz 100% renovável, bem como para a melhoria da qualidade do ar no país”, adverte o estudo do IEMA.