O crescente consumo europeu de carne bovina está diretamente relacionado ao desmatamento do Pantanal, revela uma pesquisa preocupante que lança novo alerta sobre as consequências ambientais da cadeia produtiva global. De acordo com um estudo internacional, a JBS, uma das principais empresas do ramo no Brasil, está conectada à grande maioria das propriedades autorizadas a comercializar gado com o continente europeu, intensificando a pressão sobre esse ecossistema.
Maior planície alagável do planeta, o Pantanal é a morada de espécies emblemáticas como a onça-pintada e a sucuri. No entanto, a região está se reduzindo pelo avanço impiedoso da pecuária. Um exemplo alarmante é uma fazenda no município sul-mato-grossense de Porto Murtinho, onde quase 830 hectares de flora nativa foram convertidos em pastagens entre 2010 e 2021. Esta prática não se limita a um único local, estendendo-se por todo o bioma e atingindo propriedades no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul que fornecem carne para o mercado europeu, todas elas afetando o Pantanal ou em parte o Cerrado.
A pesquisa, conduzida pela Fundação para a Justiça Ambiental (EJF), aponta um aumento de 127,5% na cobertura de pastagens desde 1990, correspondendo a mais de 3,8 milhões de bois no bioma. Este cenário é produto de crises ambientais diversas, incluindo drenos para lavouras, barragens de hidrelétricas e a própria crise climática, como explica Solange Ikeda, professora na Universidade Estadual do Mato Grosso (UNEMAT).
A partir de dados governamentais e de instituições como o MapBiomas, a EJF estima que uma área equivalente a 30 campos de futebol de vegetação nativa foi destruída diariamente nas fazendas pantaneiras exportadoras. A expansão do agronegócio no Pantanal é ainda um sinal de alerta para a necessidade de inclusão de outras regiões naturais no âmbito do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, atualmente em negociação, que pode afetar a preservação de ecossistemas com grandes estoques de carbono e rica biodiversidade.
Com a JBS no epicentro da comercialização de carne bovina entre o Pantanal e a Europa, a problemática envolve não somente a biodiversidade local, mas também questões de emissão de CO2. O desflorestamento associado às propriedades estudadas pela EJF gerou a liberação de 4,6 milhões de toneladas de dióxido de carbono. As chamas que devastaram a região em 2020 pioram o quadro, com a morte de milhões de animais e série de outras consequências ambientais negativas.
Este grave cenário reforça a importância de políticas públicas eficientes e sustentáveis. As conexões entre a demanda do mercado internacional e o impacto ambiental local devem ser minuciosamente examinadas e reguladas, de modo a preservar o Pantanal e outros ecossistemas vitais. O debate ético em torno do consumo consciente e da responsabilidade corporativa, juntamente com estratégias de bioeconomia alinhadas aos princípios ESG (Environmental, Social, and Governance), se apresentam como fundamentais na busca por um equilíbrio que respeite tanto o meio ambiente quanto as necessidades econômicas.
Fonte: https://oeco.org.br/reportagens/consumo-europeu-de-carne-amplia-desmate-do-pantanal/