Um estudo inédito realizado pelo Instituto Igarapé revela a impressionante expansão da cadeia do crime organizado da Amazônia para outras regiões do Brasil, alcançando 24 dos 27 estados do país. A investigação avança na compreensão dos caminhos do crime ambiental na região amazônica brasileira, expondo as ramificações dessa atividade ilícita por uma área vasta que inclui territórios na América do Sul.
A partir da análise de mais de 300 operações da Polícia Federal (PF) entre 2016 e 2021, o estudo, intitulado “Territórios e Caminhos do Crime Ambiental na Amazônia Brasileira: da floresta às demais cidades do país”, parte da série “Mapeando o Crime Ambiental na Amazônia”, mostra que áreas protegidas e terras indígenas são focos significativos das ações criminosas, com 45% das operações da PF voltadas para reprimir ilícitos nessas localidades.
No que tange à distribuição geográfica das infrações, as operações da PF se concentraram em 197 municípios da Amazônia Legal e estenderam sua atuação para 57 municípios fora da região e outros oito em países vizinhos. Dentro deste escopo, o Pará lidera o ranking das operações, seguido de perto por Rondônia e Amapá. Destaca-se também que estados fora da fronteira da Amazônia Legal, como São Paulo, Paraná e Goiás, fazem parte dos locais impactados pelos desdobramentos das atividades ilegais.
Existem diferentes economias ilícitas interligadas ao desmatamento incontrolado na Amazônia, tais como extração ilegal de madeira, mineração ilegal, grilagem de terras e atividades agropecuárias com passivos ambientais. O artigo “O ecossistema do crime ambiental na Amazônia: uma análise das economias ilícitas da floresta” mostra que esses crimes não apenas são ambientais, mas também envolvem ilícitos financeiros, tributários, corrupção, fraude e até crimes violentos.
A diretora de Pesquisa do Instituto Igarapé, Melina Risso, pontua que o desafio não é apenas local e que as consequências da criminalidade ambiental na Amazônia afetam todo o país. A integração desse ecossistema criminoso em distintos estados brasileiros e países sul-americanos atesta a necessidade de políticas públicas e corporativas mais eficazes. A presidente do Instituto, Ilona Szabó de Carvalho, reitera a urgência de medidas do poder público e setor privado para fechar lacunas que permitem ilegalidades nas cadeias de suprimento e operações financeiras.
A pesquisa destaca também o alto número de operações da PF focadas em áreas protegidas, expondo a vulnerabilidade crescente destas regiões ao crime ambiental. Faz-se um alerta quanto ao crescente avanço dos territórios afetados pelo crime ambiental em direção ao espaço amazônico que se expande para além do chamado “Arco do Desmatamento”.
Com o objetivo de propor soluções e parcerias para enfrentar esses desafios globais, o Instituto Igarapé busca, através desses dados, influenciar políticas públicas e auxiliar governos, setor privado e a sociedade civil no desenho de soluções baseadas em evidências. Esse estudo reforça a importância do combate ao crime ambiental não apenas como uma forma de proteção ao meio ambiente, mas como um elemento crítico para a segurança pública e a sustentabilidade econômica em território nacional e além.