A bioeconomia europeia mostra-se como uma solução em potencial para a substituição dos combustíveis fósseis por biomassa em diversos setores industriais. No entanto, um estudo publicado recentemente analisa os desafios e conflitos presentes nesse movimento, destacando a importância de respeitar os limites biofísicos e a necessidade de reconciliação entre crescimento econômico e sustentabilidade.
O artigo identifica dois conflitos principais referentes ao uso da biomassa: a produção de plásticos de base biológica e o conceito de uso em cascata da biomassa. Enquanto o primeiro aborda o impacto dos plásticos compostos por biomassa no ambiente, o segundo questiona a que ponto a biomassa deve ser usada antes de se tornar energia. A análise destes conflitos é importante para entender o desenvolvimento político da bioeconomia europeia.
No debate sobre a produção de plásticos bio-based, há uma narrativa dominante de que a biomassa, por ser renovável, é intrinsecamente sustentável. No entanto, alguns atores destacam a importância de reduzir a produção geral de plásticos, incluindo plásticos de base biológica, devido aos seus possíveis impactos ecológicos, como competição por terras e ameaças à biodiversidade. Tal enfoque marca uma diferença de perspectiva entre projetos de bioeconomia orientados para o crescimento, a circularidade e a suficiência.
O conceito de uso em cascata envolve o uso da biomassa em várias etapas produtivas antes de sua utilização energética final, buscando aumentar a eficiência de recursos. Este conceito enfrenta resistência, especialmente da indústria de bioenergia e setores florestais, que consideram essas restrições um entrave ao crescimento econômico e à inovação. No entanto, defensores argumentam que pode mitigar impactos negativos nos ecossistemas.
A análise dos conflitos políticos sugere que, embora discursos sobre limites biofísicos estejam presentes nas políticas, a implementação concreta permanece comprometida por interesses voltados ao crescimento. Este contexto destaca a necessidade de uma convergência política que fortaleça a sustentabilidade, incluindo redução do uso de recursos e adaptação dos sistemas produtivos a práticas mais circulares.
As conclusões mostram que, enquanto as políticas de bioplásticos caminham para contemplar limites biofísicos, o uso em cascata dentro da diretiva de energia renovável (RED III) oferece concessões que não necessariamente restringem o uso energético da biomassa primária. Há um desafio claro na reconciliação do modelo de crescimento econômico com a imperativa de respeitar os limites biofísicos impostos pelos ecossistemas.
Para um avanço na construção de uma bioeconomia sustentável, o estudo destaca a importância de alianças entre acadêmicos, ONGs e partes da indústria, que podem promover uma bioeconomia dentro de limites ecológicos. No entanto, alcançar essa transformação requer superar interesses consolidados e implementar planejamentos e políticas que incorporem limites de uso consciente de recursos.
Fonte: Negotiating biophysical limits in the European Union’s bioeconomy: a critical analysis of two conflicts over regulating biomass use in EU policy. Negotiating biophysical limits in the European Union’s bioeconomy: a critical analysis of two conflicts over regulating biomass use in EU policy