O nitrogênio, embora represente cerca de 80% do ar que respiramos, enfrenta uma grave ameaça global devido à sua utilização agrícola desregulada. O excesso de nitrogênio nos ecossistemas, principalmente através do uso de fertilizantes sintéticos, está rompendo ciclos naturais e excedendo os limites planetários seguros, alertam os cientistas.
A produção em massa de fertilizantes sintéticos, viabilizada pelo processo Haber-Bosch, foi fundamental para o aumento sem precedentes na produção agrícola mundial. Entretanto, isso levou ao desequilíbrio do ciclo global de nitrogênio, com consequências alarmantes como eutrofização de corpos d’água e deterioração de ecossistemas.
Apesar da tendência em focar no dióxido de carbono (CO2) como principal vetor de mudanças climáticas, pesquisadores apontam que estratégias igualmente agressivas devem ser adotadas para mitigar a poluição por nitrogênio. Substâncias reativas de nitrogênio, como óxido nitroso, contribuem significantemente para o efeito estufa e a depleção da camada de ozônio, ao passo que o excesso de nitratos provoca poluição da água, afetando não apenas a biodiversidade aquática, mas também a qualidade da água potável para o consumo humano.
Medidas circulares e estratégias mais robustas de gerenciamento agrícola, como a eficiência do uso de fertilizantes e a recuperação e reutilização do nitrogênio desperdiçado, surgem como soluções promissoras. Mudanças societais, inclusive uma dieta humana com menor conteúdo de carne, podem ajudar na diminuição da dependência global de fertilizantes sintéticos. Porém, tais ações exigem transformações significativas e coordenadas no sistema agrícola global.
Do ponto de vista local e regional, a distribuição desigual da poluição por nitrogênio apresenta desafios únicos. Enquanto em algumas regiões o uso exagerado de fertilizantes sintéticos precisa ser drasticamente reduzido, outras, como a África Subsaariana, enfrentam o problema oposto, com solos empobrecidos e culturas carentes de nitrogenação adequada.
Para conter o curso prejudicial da poluição por nitrogênio e realinhar a humanidade com os limites planetários seguros, uma abordagem globalmente integrada e investimentos em inovação tecnológica são essenciais. As estratégias da economia circular são imperativas, não apenas pela sustentabilidade ambiental, mas também por representarem uma via potencialmente eficiente e econômica para o manejo de recursos agrícolas.
Mudanças dietéticas, embora desafiadoras de serem implementadas globalmente, teriam um impacto significativo na redução da emissão de poluentes nitrogenados. A transição para um consumo mais baseado em plantas pode ser uma das chaves para um sistema alimentar sustentável e o respeito aos limites biogeoquímicos do planeta.