Capacitação em gestão de manejo de pirarucu inova práticas comunitárias na Amazônia

Recentemente, a comunidade São Francisco da Mangueira sediou um encontro significativo entre acadêmicos e representantes de associações locais para abordar a gestão de empreendimentos de manejo de pirarucu na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Amazonas. A iniciativa visou potencializar o conhecimento e o uso de ferramentas de gestão adequadas às necessidades dos setores comunitários locais. Este esforço busca não apenas aprimorar a eficiência das associações, mas também adaptar práticas administrativas à realidade amazônica.

O curso de capacitação, desenvolvido a partir de um diagnóstico participativo, envolveu oficinas sobre organogramas, relações institucionais e a confeção de documentos. Segundo Elton Pereira Teixeira, professor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), esses elementos impactam diretamente a prática de trabalho dos grupos, fornecendo conhecimentos aplicáveis ao cotidiano. Elqueline Silva, da Associação do setor Macopani, destacou a importância da troca de experiências entre os participantes como uma forma de aprender a administrar sua própria comunidade.

Para a academia, este projeto proporciona um aprendizado valioso. “Estamos trabalhando sob a perspectiva interdisciplinar das ciências sociais, mas ajustadas à realidade dessas comunidades”, comenta Teixeira. Ele enfatiza a importância de reformular as práticas acadêmicas, que tradicionalmente focam grandes corporações, para incluir contextos de gestão comunitária. A iniciativa, portanto, não apenas enriquece as comunidades, mas também redefine o ensino dentro das universidades.

Este curso é apenas o primeiro módulo de uma sequência de capacitações planejadas, com previsão de um segundo módulo em fevereiro de 2025. Durante o intervalo entre os módulos, os participantes continuarão a receber apoio através de reuniões regulares destinadas a implementar o plano de ação elaborado durante a primeira etapa. A assessora técnica Cláudia de Souza, da GIZ Brasil, ressalta que a formação capacita lideranças comunitárias e profissionais de ensino, contribuindo para a criação de projetos político-pedagógicos alinhados com a realidade local.

Operar na Amazônia vem acompanhado de inúmeros desafios, especialmente em relação às mudanças climáticas, que afetam diretamente as atividades de manejo do pirarucu. Condições adversas como a seca extrema complicam o acesso aos lagos e a logística do manejo, tornando essencial a adaptação de práticas de gestão para enfrentar essas adversidades. Misaac Almeida Maciel, monitor no manejo de pirarucu e vice-presidente da comunidade de Mapurilândia, relatou que a introdução a novas ferramentas de gestão mudou seu olhar sobre a administração de associações.

A concretização deste curso foi possível graças à colaboração entre o Grupo de Pesquisa da Bioeconomia da USP, a Fundação José Luiz Egydio Setúbal, a GIZ e as universidades locais. Essa parceria demonstrou o potencial transformador das formações, impactando positivamente os envolvidos e abrindo caminho para uma bioeconomia mais inclusiva. As redes de cooperação formadas evidenciam a importância de um trabalho conjunto para alcançar soluções sustentáveis e efetivas.

Este projeto está inserido em um contexto mais amplo, sendo parte do “Projeto Bioeconomia Inclusiva na Amazônia: Fortalecimento de Cadeias Produtivas Sustentáveis”, com o apoio da Fapesp e em parceria com entidades como a Fundação Amazônia Sustentável e o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. Seu objetivo é melhorar a qualidade de vida das comunidades locais, com ênfase em produtos sustentáveis como o pirarucu, criando uma interface vital entre a natureza e os habitantes da Amazônia.

Fonte: Gestão para empreendimentos de manejo de pirarucu

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