Em uma recente publicação lançada em Brasília, antropólogos indígenas, em colaboração com o instituto de pesquisa WRI Brasil, parte do World Resources Institute, apresentaram um estudo sob um viés inovador e reivindicatório: a inclusão e o protagonismo dos povos originários do país nas discussões sobre bioeconomia no Brasil. O estudo intitulado ‘Bioeconomia indígena: saberes ancestrais e tecnologias sociais’ destaca a importância dos conhecimentos milenares e do entendimento próprio dos indígenas sobre a economia.
Os antropólogos Braulina Baniwa e Francisco Apurinã, ou Yumuniry, frisam que tal economia é praticada há milhares de anos pelos povos indígenas e que essa prática transcende o que é tradicionalmente reconhecido como ciência. Conforme apontado no estudo, os conhecimentos das mulheres do povo Baniwa foram cruciais para a pesquisa, ressaltando que a grafia e culturas próprias constituem a ciência desses povos.
Foi enfatizado que a visão indígena sobre a economia, bem como suas tecnologias sociais, precisam de maior valorização e reconhecimento. A pesquisa argumenta contra uma perspectiva que coloca os povos originários apenas como participantes passivos, sugerindo que são também produtores e colaboradores ativos na construção de uma bioeconomia que se alinha aos seus princípios e conhecimento. A importância da ciência milenar das mulheres indígenas e a necessidade de preservar e fortalecer esse saber transgeracional foram pontos fortes na narrativa dos antropólogos.
Francisco Apurinã enaltece que não se pode conceber a bioeconomia indígena sem considerar os territórios e ecossistemas, que são guardados e protegidos por seus habitantes. Ele critica a iniciativa de ações sem a participação indígena, já que para os povos originários, existe um diálogo contínuo entre todos os seres e territórios, e os indígenas são uma peça-chave nesse conjunto.
A pesquisadora Braulina reforça a necessidade de pesquisadores indígenas terem a chance de proteger não só a Amazônia, mas todos os biomas e os povos que os habitam no Brasil. A colaboração de mulheres e pesquisadores indígenas na ciência do país é vital para o processo de sustentabilidade. As observações de indígenas e seringueiros sobre mudanças climáticas demonstram a relevância da sua participação na busca de soluções para problemas ambientais, sendo também comentado por Rafael Barbieri do WRI Brasil.
O conceito de bioeconomia, para os povos indígenas, alinha-se intimamente com a sua visão de economia, baseada na produção sustentável, em harmonia com a natureza e focada no bem-estar coletivo, diferindo da lógica capitalista e de lucro. Ao final, o estudo reforça que uma bioeconomia fortalecida através dos conhecimentos ancestrais indígenas é sinônimo de manejo apropriado, manutenção e sustentabilidade do meio ambiente e biodiversidade.